“Quando não há, entre os homens, liberdade de pensamento, não há liberdade.” – Voltaire
Se você me lê hoje, é provável que esteja enfrentando algum grande desafio. Talvez sua situação não seja lá das melhores, nas finanças, na carreira, no amor… Pode ser até algo bem sério, como, por exemplo, uma separação difícil ou o desalento na busca de recolocação profissional. Ou, quem sabe, a longa espera tenha apenas cansado você, que simplesmente não consegue mais enxergar a luz a iluminar a solução do seu problema. Não importa. De qualquer jeito, posso afirmar: os pensamentos que não saem da sua cabeça têm papel central em sua situação. Diz o ditado que a “esperança é a última que morre”. Pode ser, mas há algo ainda mais importante a respeito disso tudo: a esperança precisa ser a primeira a nascer quando tudo parece perdido. E como fazê-la surgir? Educando a memória, alimentando-a com o que traz esperança.
Aflições têm enorme potencial de nos fazer olhar apenas para baixo, para as dificuldades, enxergando um beco sem saída. Voltando os olhos para o que ficou para trás, talvez só vejamos coisas ruins. Mirando o que há à frente, o cenário talvez pareça desolador. Mas será que é real? E será que é isso tudo mesmo? Não estaria essa forma de ver o mundo contaminada por uma negatividade que precisa ser revista? A principal batalha que devemos enfrentar, caro leitor, é travada na mente, nos diagnósticos que fazemos, nas percepções que formamos. Não há mudança de vida sem mudança na mente, e esse processo precisa começar na solidão do eu, dos próprios pensamentos.
Ainda que em sua vida haja pessoas que o amam e dizem conhecer você, entenda que, na prática, ninguém conhece cem por cento ninguém. Nem se combinássemos todas as ideias que sua família e amigos têm sobre você, e com o viés mais analítico possível, chegaríamos a um resultado apurado e objetivo. Todos, sem exceção, apenas imaginam como é a pessoa ao lado. Aliás, nossas relações sociais são pautadas em nossa imaginação a respeito dos outros. Só você conhece a si mesmo pra valer, portanto é o único que pode mudar sua percepção do mundo. Apenas você tem o poder de educar sua mente, eventualmente precisando de apoio, de orientação, mas jamais sem sua própria participação no processo. Segundo Jean-Jacques Rousseau, “é sobretudo na solidão que se sente a vantagem de viver com alguém que saiba pensar”.
Então que tal renovar seus pensamentos, a fim de reeducar a memória? Parta do princípio de que, se os primeiros se desvirtuarem, sua vida inteira tomará, na sequência, um rumo árduo. O descontrole no plano das ideias atrapalha nossa trajetória na vida real. O psiquiatra Augusto Cury ressalta que vivemos na era da Síndrome do Pensamento Acelerado, com lembranças, medos e projeções invadindo nossa mente sem pedir licença e contaminando tudo em volta. É isso que explica sucessivos ciclos de ansiedade e angústia. Desconectados do mundo e perturbados por sentimentos como frustração, é como se ficássemos ausentes em alguns momentos da nossa história. As memórias são substituídas por aflições, muitas delas sem amparo na realidade. Pesado, não?
Por isso é tão importante substituir certos pensamentos por outros que tragam esperança. Há que relembrar vitórias do passado. Há que refletir sobre eventuais vantagens e privilégios em relação a outras pessoas. Há que pensar nas vezes em que tudo podia ter dado errado, mas não deu. Há que reconhecer o milagre de estar vivo. Jamais ignore esta verdade: o que parece uma tragédia aos seus olhos pode ser o ideal de felicidade para muitas pessoas em circunstâncias piores.
Trazer à memória o que dá esperança significa tomar as rédeas da própria vida e decidir com o que ocupar a mente. É ter controle sobre os pensamentos e, de forma consciente, projetar imagens mentais aptas a combater a toxicidade que de tempos em tempos surge para nos atormentar. Já notou como algumas pessoas de passado sofrido às vezes são mais bem-resolvidas do que outras cujo histórico é menos traumático? Se há os que sofrem menos com o passado, é porque aprenderam a educar a memória, a valorizar mais o hoje, a enxergar de outra forma algo que ocorreu, ou simplesmente substituir as recordações por outras melhores.
Assim, inspirar-se em pessoas que superaram momentos difíceis é uma forma de mudar a perspectiva que temos sobre nossas experiências ruins. O que essa gente fez que nós também podemos fazer? Que tipo de aprendizado colhemos dos relatos que ouvimos? Quando testemunhar o sucesso de alguém, nada de alimentar a inveja do tipo destrutivo. Em vez disso, mentalize: “se aconteceu na vida dele, pode acontecer na minha”. Use essa fonte de motivação para construir novas memórias, mais esperançosas.
Quando penso sobre o assunto, gosto de lembrar a trajetória do meu pai, que passou por inúmeras privações quando jovem, inclusive de alimentos. Certa vez, tive a oportunidade de entrevistá-lo e ouvi uma confissão que mexeu demais comigo: ele me disse que, ao olhar para mim e meu irmão, sempre conclui que tudo valeu a pena. Percebe, amigo leitor, como esse é um exemplo de memória que traz esperança? Às vezes, me vejo resmungando por conta de problemas absolutamente banais quando comparados aos que meu pai teve de superar na minha idade e até um pouco antes. Portanto, sei que também preciso me policiar e seguir reeducando minha memória. Esse é, aliás, um processo contínuo.
Trazer à memória o que dá esperança é compreender que ninguém consegue mudar o mundo sem, antes, mudar a si mesmo. É entender a necessidade de abandonar o velho e abrir espaço para o novo. É não ser escravo dos pensamentos ruins decorrentes de eventos negativos da vida. É aceitar que qualquer nova realidade se inicia dentro de você, que tudo se transforma a partir de você, e não de fora para dentro.
Condicionar a memória ao que traz esperança pressupõe aceitar as fases da vida, que são como as da construção de um edifício. Independentemente da altura, começa-se pelo subsolo, pelas fundações. Ao erguer o edifício da sua vida, você provavelmente terá problemas ainda na base. Depois, poderá faltar material quando chegar ao terceiro piso. O vento e outras intempéries talvez provoquem abalos na estrutura à medida que o prédio sobe. O que você fará quando tudo isso acontecer? Meu conselho é trazer à memória o que pode lhe dar alguma esperança. Resolva, sem sucumbir à frustração nem procurar culpados, cada um dos problemas que surgirem e passe para o próximo andar. Lembre-se: não existe obra de qualidade feita da noite para o dia. Uma base sólida, fixada ao chão com segurança, exige muito aço e concreto, o que significa que cada laje, coluna ou viga de sustentação precisará ter respeitado o tempo de secagem.
Para invocar boas energias para a sua própria obra – a vida –, tente primeiro apagar a planta do passado. Não carregue entulho desnecessário. Concentre-se apenas no que você quer, no que lhe interessa, no novo e melhor, ou seja, naquilo que lhe dá esperança. Nada de vacilar, de olhar para baixo quando estiver no alto do seu edifício, ou você pode perder o equilíbrio e cair. Foque o que está à frente, mantendo os pés firmes no chão, com orgulho do prédio que está erguendo. A altura e a solidez da obra dependem da base, que deve ser de humildade, pensamento positivo, foco e determinação.
Cuidado com as distrações, com o que lhe chega à memória. Não permita que sua mente projete desgraça. Não seja escravo de celas sem grades em razão de pensamentos destrutivos. Apegue-se às suas vitórias. Elas mostram que é possível ir mais longe. Apegue-se à sua família amada, ao que você já fez de bom e ao que ainda pode fazer, às histórias inspiradoras que lhe trazem esperança. A espera nada mais é que a preparação para moldar sua trajetória aos seus sonhos.
“Quero trazer à memória o que me pode dar esperança”. Lamentações 3:21
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