A uva, em pouco tempo, estraga. É um alimento como qualquer outro da categoria de perecíveis: tem prazo de validade curto. O vinho, por outro lado, agrega valor com o tempo. E por que estou falando disso, se nem beber eu bebo? Porque temos muito a aprender com tal analogia. O que determina o incremento no valor de um vinho, que é potencialmente ilimitado, é o processo envolvido na produção, a raridade e data da safra. É possível enxergar movimento similar na vida de todos nós: o processo é o que nos fortalece e nos torna mais valorosos, aumentando nossa capacidade de alcançar feitos de grande impacto.
Pense em tudo que é necessário para converter uva em um bom vinho, transformação que o homem aprendeu a executar há milhares de anos. Além da longa espera – passam-se meses do plantio até o amadurecimento dos frutos –, há as etapas de colheita, esmagamento, prensagem, fermentação, transferência de um tanque para outro, clarificação, estabilização e maturação. Depois de engarrafada, a bebida ainda fica um período de repouso antes de ser comercializada e, finalmente, degustada. Tudo isso sem que o produtor possa descuidar do clima, da poda, do terreno, das sementes e da tecnologia ou técnica empregada no plantio e fabricação. A diferença entre a boa e a má qualidade do produto, a aceitação e a rejeição pelo consumidor, o sucesso e o fracasso no mercado, os preços maiores ou menores está, adivinhe, no processo.
Você, concurseiro, talvez tenha se questionado muito, ultimamente, por que vem enfrentando tantas dificuldades, por que tem sido tão custoso seguir a carreira que escolheu, por que a espera pela aprovação tem sido longa assim… É mesmo difícil manter a paciência quando parece que tudo precisa dar errado antes de, enfim, as coisas se ajustarem. Mas procure pensar que, tal como ocorre com a bebida milenar, tudo que acontece com e para você é fonte de aprendizado, de aprimoramento. O processo entre a decisão de estudar para concurso e a nomeação para o cargo é o que vai tornar você mais experiente, mais sábio, mais forte e, por que não, mais apto. Alguns de nós precisam de um pouco de pressão para alcançar os melhores resultados. Foi sob pressão e vivendo cada etapa do processo que o ser humano foi capaz de inventar, depois reinventar; de aprender, depois reaprender; de dar um passo, depois outro, em contínua evolução.
Procure se lembrar por que você aceitou o desafio lá no início. O que o levou a se jogar nos estudos? Com qual objetivo? O que você já conseguiu aprender e o que ainda espera internalizar? Às vezes, acabamos nos perdendo em meio à dura rotina e nem sabemos direito aonde queremos chegar. Infelizmente para alguns, mas felizmente para o mundo, o propósito se revela depois dessa jornada de autodescoberta. Se viesse antes, provavelmente não estaríamos prontos para ele. Cometeríamos erros, não valorizaríamos as conquistas, vestiríamos roupas que não nos pertencem. É preciso, portanto, suportar o processo, para vivenciar o propósito.
Não digo que é fácil. Não mesmo. Veja bem, até meus 21 anos, recém-formado e já à frente do Gran Cursos Online, que então contava pouco mais de um ano, eu nunca havia passado por grandes dificuldades em termos financeiros. Diferentemente de meus pais, que enfrentaram privações extremas na infância e juventude, fui, em muitos aspectos, um privilegiado, graças ao trabalho deles. O Gran começara pequeno, é verdade, com recursos limitados, mas meu sócio, Rodrigo, e eu estávamos conseguindo nos virar, mesmo no aperto das cartolinas nos estúdios e com poucos colaboradores. Na pessoa física, eu vivia bem, embora ainda longe do que gostaria.
Mas bastou me formar e retornar a Brasília, a fim de me dedicar cem por cento aos negócios, para meu mundo desabar. Minha família teve de superar muitos problemas naquela época. Ao mesmo tempo, a empresa recém-nascida estava sofrendo. O Gran, embora tivesse aprovado muito bem nos concursos de 2013, ainda não tinha conseguido decolar, e os custos estavam cada vez mais altos. Atravessamos o fatídico ano de 2014 à beira do colapso (na pessoa física e na jurídica). Eu dormia e acordava pensando em como resolver as coisas. Dinheiro era um problema 24 horas por dia. E não estou falando de pouco. Eram dívidas de mais, tempo de menos e preocupação nas alturas. Se a empresa quebrasse, eu quebrava junto, e, pelas minhas contas, só me reergueria depois dos trinta (lembre-se: eu tinha 21).
O processo parecia incrivelmente doloroso para um jovem recém-formado. Apreensões de magnitude que eu nunca experimentara até então vieram em avalanche, abalando todos os meus alicerces, que eu julgava tão sólidos. Ah, quase me esqueço de mencionar: para piorar, a namorada, que eu pensava amar, terminou comigo. O teste parecia mesmo excessivo, desnecessário, até injusto. Tive crises de ansiedade terríveis, além de dificuldade para dormir. Sem a maturidade de hoje, fiquei a poucos passos do que seria um burnout ou algo parecido. O absoluto autocontrole que eu transparecia não podia estar mais distante do que se passava lá dentro, em meu interior atormentado. Ninguém fazia ideia de como eu estava me sentindo de verdade.
Enfim, depois de algum tempo, a batalha acabou vencida, e acredito de verdade que foi todo o processo até a vitória que me capacitou como líder e empreendedor, dando-me equilíbrio e conhecimento para, nos anos seguintes, enfrentar muitos outros desafios que se sucederam enquanto a empresa crescia. Foi aquele processo sofrido que me tornou um líder de maior, digamos, raridade. Sem falsa modéstia, acho que poucos empreendedores teriam conseguido superar aquela situação, sobretudo na minha idade.
Foi o processo que transformou a uva, o recém-formado metido a empreendedor, em vinho, um executivo com um projeto ambicioso pela frente. A sensação que tenho é de ter feito em apenas um ano um estágio de dez, talvez vinte. Essa fase foi decisiva na construção do Gran que você conhece, do Gran que ajudou na aprovação de milhares de concurseiros, do Gran que hoje conta com 256 mil alunos, a melhor equipe, a tecnologia mais inovadora, o marketing mais humano, o atendimento mais premiado da categoria.
Pode ser que você esteja passando por adversidades semelhantes às minhas de alguns anos atrás. Nesse caso, meu conselho é: não encare os fatos como algo pessoal, nem se deixe paralisar por eles. São um mal que vem para o bem. Disfunções em geral revelam falhas que talvez você ignore ter, mas também indicam meios de aprimoramento. O que você deve fazer é continuar tentando, até acertar. Precisará de tempo para fazer os ajustes? Claro. O quanto, dependerá de qual é a sua meta. Só não deixe de se comprometer a manter o rumo.
O polimento de um diamante, técnica artesanal que é, pode levar até um ano, isso nas mãos de um lapidário experiente. As pedras maiores quase sempre ficam a cargo de profissionais com mais de 50 anos de idade e muitos de experiência no ofício. Isso porque leva tempo para aprender todas as etapas do processo. Não existe fórmula mágica: a maestria se consegue com o passar do tempo, com a prática e com a cabeça aberta para absorver novas lições.
O processo, como se vê, faz a diferença, no aprendizado e na execução. Aguente o seu, por mais duro que seja. Suporte-o, sabendo que há um destino compensador à frente. Tente, se possível, aproveitar ao máximo cada fase, em todo o seu enorme potencial de ensinar. Em breve, quando você menos esperar, perceberá que deixou de ser pedra bruta e se tornou diamante, que de uva se converteu em vinho da melhor safra. Concluirá, então, que isso só foi possível por você ter aceitado enfrentar o processo necessário. Foi o processo que fez de você alguém de raro valor na família, na comunidade, na sociedade.
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Gabriel Granjeiro – Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 10 anos. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino digital.