Era uma vez um garoto de dez anos que não tinha mais o braço esquerdo, consequência de um terrível acidente de carro sofrido algum tempo antes. Como era de se esperar, o evento impôs ao menino enorme dor física e emocional, fazendo-o amadurecer bem mais rápido que os amigos.
Um dia, o rapazinho resolveu praticar judô. Apesar da limitação física, ele ia muito bem nos treinos. Era disciplinado e respeitoso como poucos. No entanto, passados três meses, o mestre tinha ensinado apenas um movimento a ele. O garoto, sem entender, perguntou:
– Mestre, não devo aprender mais movimentos?
Calmo e convicto, o homem respondeu:
– Esse é realmente o único movimento que você sabe, mas também o único que você precisará saber.
Meses mais tarde, o jovem judoca foi inscrito em seu primeiro torneio. Depois de vencer facilmente os dois primeiros combates, classificou-se para a luta final. O oponente era bem maior, além de mais forte e experiente. Sem se deixar abalar, o menino entrou no ringue e, assim que teve oportunidade, usou o único movimento que sabia – treinado à exaustão – para prender o adversário. Foi assim que ganhou a luta e o torneio. Era o campeão!
Mais tarde, já em casa, aluno e mestre revisaram cada luta. O garoto criou coragem e verbalizou o que realmente pensava:
– Mestre, como consegui vencer o torneio com apenas um movimento?
– Você ganhou por duas razões – respondeu o mestre. – Em primeiro lugar, você dominou um dos golpes mais difíceis do judô, após muito treino. Em segundo, a única defesa possível para esse movimento era agarrar o seu braço esquerdo.
Adaptei essa pequena história de uma parábola intitulada “O único movimento” e decidi usá-la como ponto de partida para nossa conversa de hoje por nos ensinar uma lição poderosa sobre fraqueza se convertendo em força. Penso que, assim como fez o protagonista, todos nós também podemos, em nossas fraquezas e com nossas fraquezas, nos tornar mais fortes.
No mundo dos fatos, não é raro encontrar gente que sabe fazer isso. Winston Churchill, por exemplo, era paranoico quando se tratava de defender a Grã-Bretanha. Via perigo até mesmo no pacifista Gandhi, mas foi um dos poucos que enxergou Hitler como a ameaça que, de fato, era. No momento de maior necessidade, o fanatismo imprevisível do estadista conduziu os ingleses na vitória contra os alemães, o que demonstra como, no contexto certo, até mesmo características indesejáveis podem se revelar virtuosas.
Vincent van Gogh foi outro que fez da própria imperfeição a base para sua arte e seu legado. Sofria de alucinações e crises de ansiedade, mas extraiu daí o seu talento, imprimindo nos traços tortuosos de suas telas o que tinha de “torto” em sua personalidade. Infelizmente, não recebeu, em vida, nenhum reconhecimento pela maior parte de sua obra. Em 1882, registrou a frustração em uma carta endereçada ao irmão Theo: “Aos olhos da maioria das pessoas, sou alguém que não tem posição na sociedade e nunca vai ter – um zé-ninguém, um excêntrico. Em resumo, a mais baixa das criaturas. Tudo bem, então. Mas, mesmo que isso fosse verdade, eu deveria querer mostrar por meio do meu trabalho o que um excêntrico, um zé-ninguém como eu, tem no coração. Eu sonho como a minha pintura e então eu pinto o meu sonho.”
É o que importa, concurseiro: sonhar, e sonhar alto, e tentar – com paixão e apesar dos pesares – realizar os sonhos mais sublimes. Quando tiver de pôr à prova uma característica sua que julgue indício de fraqueza, aproveite para tentar transformá-la em diferencial. Lembre-se de que um mesmo atributo avaliado por todos como nocivo pode produzir, em outra circunstância, algo ótimo. Uma mesma faca serve de arma branca, na mão do assassino, ou de ferramenta para preparar o jantar, empunhada pelo chefe de família. Se é instrumento de ódio ou de amor, vai depender de quem o manuseia.
Ora, caro leitor, quem tem problemas vai em busca de resolvê-los, até nas coisas mais prosaicas. O que fazemos se, por exemplo, notamos os músculos flácidos? Há duas opções: ou convivemos com o problema – e todos os demais que, cedo ou tarde, decorrerão dele –, ou passamos a fazer exercícios físicos com frequência e disciplina. No início dói, mas suportamos a dor, insistimos, persistimos, reclamamos, pensamos em deixar para lá… E eis que – finalmente! – os resultados começam a ser visíveis, e logo percebemos outros efeitos benéficos do esforço. Passamos a ter orgulho de nós mesmos, nos sentimos mais dispostos e intensificamos os treinos, entrando num ciclo virtuoso. O incrível nisso tudo é que tudo começou com uma fragilidade, a fraqueza muscular. Foi a partir dela que nos tornamos mais fortes, no sentido metafórico e no literal.
Curioso pensar que nossas vulnerabilidades podem desenvolver em nós uma força que pensávamos não ter. Mas é a verdade. Sem sentir as dores resultantes da atividade física, talvez jamais conhecêssemos nossa capacidade de superá-las em prol de um bem maior. Talvez nunca tomássemos conhecimento do nosso potencial, que vai muito além do que um corpo sedentário parece oferecer. Vendo por esse lado, a fraqueza é uma oportunidade para nos descobrirmos. O fato de haver poder na impotência soa até paradoxal, mas não é. Se fôssemos invencíveis, qual seria o mérito de enfrentarmos desafios? Como seríamos corajosos se tivéssemos sempre certeza do resultado? A força vem justamente porque existe algum grau de fraqueza, nem que seja travestida de medo.
Na vida real, de repente um dilúvio despenca – com força, sem dó nem limite – sobre nossa cabeça e das pessoas que amamos. O que fazer então? Pedir para sair? Jogar a toalha? Provavelmente será o que muitos farão, mas você pode agir diferente. Junte os cacos, recolha o que sobrou, busque dentro de si o poder que os fortes têm, reúna todo mundo que torce por você (se não conseguir pensar em ninguém, lembre-se de nós, da equipe Gran). Volte à arena, fortalecido, empoderado, e recomece, desafiando o medo e o mal com fé e trabalho duro.
Siga em frente mesmo que espinhos no caminho firam seus pés, como lembrança de que, sim, somos seres frágeis e vulneráveis, porém capazes de extrair daí nossa força, tanto que conseguimos suportar todas as dificuldades que diariamente nos atormentam. Descubra a grande alegria na possibilidade de continuar caminhando, apesar da dor e das pegadas de sangue deixadas para trás. Isso é, por si só, um privilégio.
Nos momentos mais escuros e tristes, nas horas de maior dificuldade, lembre-se: é justamente quando estamos fracos que somos fortes.
“Porque quando estou fraco então sou forte”. 2 Coríntios 12:10
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Gabriel Granjeiro – Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 10 anos. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino a distância.