Fora de série: por que alguns chegam tão longe e outros não?

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20 de Julho de 2020

“Se você consegue ver a estrada bem delineada à sua frente, saiba que essa não é a sua estrada. Seu caminho é você quem faz, passo a passo. É por isso que é seu.” – Joseph Campbell

Por que alguns de nós alcançam mais sucesso que outros? O que leva uma pessoa a se destacar tanto, a ponto de ser vista como “fora de série”? Será o talento? Será o esforço? Talvez inteligência acima da média? A prática e a experiência? Ou, quem sabe, alguma vantagem oculta, como herança cultural, local de nascimento, círculo familiar? No livro Fora de Série (Outliers, no título original), Malcolm Gladwell se debruça sobre esse tema e vai em busca de respostas. Partindo da premissa de que o sucesso ou insucesso de alguém é resultado de uma conta em que entram diversos fatores, Gladwell explica que algumas dessas variáveis estão diretamente relacionadas ao contexto do indivíduo, às circunstâncias impostas pela vida, ao passo que outras dependem exclusivamente de sua capacidade de ação, de como decide construir a própria trajetória.

Hoje conversaremos um pouco sobre isso. Antes, porém, permita-me contar uma pequena história, a fim de inspirar em você o desejo de livrar-se das amarras – físicas e mentais – que o impedem de seguir seus sonhos:

Na virada do século XX, havia um mestre chamado Gurdjieff. Um dia, ele dirigiu aos seus discípulos uma pergunta: se um prisioneiro quer fugir da prisão, qual é a primeira coisa que ele precisa saber? “Quem é o guarda”, foi a primeira resposta. “Onde está a chave”, sugeriu um segundo aluno. “Nada disso”, disse o mestre. “A primeira coisa que ele precisa saber se quiser fugir da prisão é que está na prisão. Até descobrir isso, é impossível fugir”, complementou.

É isso mesmo, caro leitor. Para se libertar, você precisa primeiro reconhecer sua condição de prisioneiro. Seja franco consigo mesmo.

Identifique sua zona de conforto e tome a decisão de sair dela. E não se engane: será difícil, será demorado, será sofrido. Haverá dúvida, haverá hesitação, haverá vontade de desistir… Seja forte e não ceda! O sentimento de satisfação que vem depois de superada essa fase faz tudo valer a pena.

Com esse espírito, vamos aos ensinamentos reunidos no livro Fora de Série.

Um dos aspectos abordados na obra é a importância do treino para o sucesso individual. O autor discorre sobre o que acredita ser necessário para se atingir a excelência em qualquer forma de arte ou atividade humana: 10 mil horas de prática. São cerca de três horas por dia, vinte horas por semana, durante dez anos. Esse é o número mágico, segundo Malcolm.

Sempre amparado em pesquisas científicas, Gladwell defende que o cérebro precisa desse tempo para atingir a destreza. E cita exemplos, como o de Mozart, que produziu sua primeira obra-prima aos 21 anos de idade. Àquela altura, o rapaz já tocava piano havia quase duas décadas, metade desse período como protagonista em concertos. Ninguém nega que o musicista tenha sido um gênio precoce em sua arte, mas é mito que suas composições fossem perfeitas desde sempre. Hoje se sabe que muitas delas, particularmente as criadas na infância, foram aperfeiçoadas pelo pai antes de virem a público. Em outras palavras, o magistral Mozart que conhecemos, o Mozart de carne e osso, ser humano falível como qualquer um de nós, também precisou de muito treino para desenvolver sua técnica.

“A prática não é aquilo que uma pessoa faz quando se torna boa em algo, mas aquilo que ela faz para se tornar boa em algo”, sintetiza o autor de Outliers. A maior diferença entre os músicos de elite que alcançam projeção internacional e os que jamais irão além da Academia está relacionada ao tempo de dedicação. Os melhores do mundo somam, no mínimo, as tais 10 mil horas de prática, ao passo que os bons não ultrapassam 8 mil e os menos geniais pouco mais de 4 mil.  A trajetória de uma das maiores bandas pop de todos os tempos confirma a regra. Na época em que estourou nas rádios, The Beatles já havia se apresentado ao vivo cerca de 1,2 mil vezes. A maioria dos grupos de rock da atualidade não soma esse número de apresentações nem considerando toda a carreira.

As 10 mil horas de prática demonstram seu valor em outros campos da engenhosidade humana, como a de tecnologia. Bill Gates, por exemplo, programou sem parar por sete anos consecutivos antes de criar a Microsoft, em 1975, aos 19 anos de idade. É claro que, no caso dele, outros fatores ajudaram: Gates nasceu na melhor época possível para alguém com aptidão para trabalhar com informática, cresceu no lugar certo – centro mundial do desenvolvimento nessa área – e estudou na única escola de ensino médio dos Estados Unidos que dispunha de acesso ao sistema compartilhado de programação. Que ele soube aproveitar bem cada oportunidade, não há dúvida, mas sua dedicação obsessiva à programação foi decisiva para fazer dele o ícone que é hoje.

“Isso quer dizer que precisarei estudar 10 mil horas para passar no meu concurso?” Não, caro leitor. Para ser aprovado, você não tem de se tornar um especialista nas matérias previstas no edital; precisa apenas se desenvolver na arte de pontuar bem nas provas. Quando se trata de concurso público, o “número mágico” a que Gladwell se refere serve como uma generalização a reforçar a importância do treino para tudo na vida, inclusive as provas de seleção. É claro que talento, ambição e coragem têm sua parcela de responsabilidade pelo sucesso na busca por um cargo público. O apoio e incentivo dos pais também ajudam – e como! Todavia, nada disso adianta se não houver empenho do próprio concurseiro.

Sei o que você está pensando. “E se eu não nasci no lugar certo nem na hora certa? E se não conto com uma família que me ampare? Estou fadado ao fracasso?” Óbvio que não, meu amigo, minha amiga. Tudo a nossa volta nos influencia, para o bem ou para o mal. Assim, mesmo que você tenha largado alguns metros atrás dos demais competidores, sempre é possível agir para diminuir a diferença. Naturalmente, será preciso maior esforço da sua parte, mas a vitória depende, em boa medida, da sua persistência.

A seu favor, lembre-se de que a educação nunca esteve tão acessível, seja pelo formato, no meio digital em qualquer lugar do mundo, seja pelo custo, uma fração mínima do que era há pouco tempo. Para você ter uma ideia, o meu entrevistado desta semana no canal Imparável, o professor Dermeval Farias (atualmente promotor de Justiça), que foi criado em uma cidade de 11 mil habitantes, precisou viver três anos e meio longe da família, em uma república na cidade de Belo Horizonte, durante o período de preparação para concursos. Felizmente, soluções complicadas como essa não são mais necessárias hoje, graças à educação digital. As oportunidades finalmente estão começando, em passos lentos, a se nivelar, por mais que ainda estejamos longe do ideal.

Outro fator que Malcolm Gladwell desmistifica é relacionado ao QI. Costumamos pensar que pessoas dotadas de alto quociente de inteligência estão destinadas ao sucesso. No entanto, observa o autor, a partir de certo ponto, o grau de inteligência já não faz tanta diferença assim e pode até atrapalhar: há indícios de que pessoas com alto QI têm sérias desvantagens, como maior propensão a crises de ansiedade, desordem de humor e déficit de atenção. O QI é um indicador de habilidades inatas. A destreza social, por seu turno, é construída a partir do que se aprende em sala de aula, mas também pelo que se internaliza no ambiente familiar e nos grupos de amigos e conhecidos. Ora, sabendo que o sucesso tem muito a ver com as oportunidades surgidas ao longo da vida, podemos concluir que ele depende mais de certos traços da personalidade, como caráter, ética e capacidade de cooperação, do que da inteligência formal. Intelecto e realização estão longe da correlação perfeita.

Gladwell não deixa de abordar um terceiro aspecto polêmico relacionado ao maior ou menor sucesso das pessoas: o que envolve as condições “herdadas” pelos indivíduos. O escritor menciona o “efeito Mateus”, expressão cunhada pelo sociólogo Robert Merton para sintetizar este trecho do Evangelho de Mateus (25:29): “Porque a todo aquele que tem será dado e terá em abundância; mas, daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado.” Na interpretação de Malcolm, os bem-sucedidos são os que têm acesso às melhores oportunidades, as quais dão origem a novas chances de crescimento, formando um ciclo de “vantagem cumulativa” que se revela nada democrático. Discordo desse entendimento. Penso que esse ciclo de privilégio não é absoluto, muito menos definitivo. Para mim, ele pode perfeitamente ser rompido. Minha interpretação da passagem bíblica é que, se enterrarmos os nossos talentos, omitindo-nos quanto ao dever de multiplicá-los, outra pessoa ocupará, sim, o nosso lugar nessa empreitada, mesmo que já tenha vários talentos e seja muito bem-sucedida.

Em outras palavras, concurseiro, saiba que, se você renunciar aos seus talentos (sim, eles existem!) e à preciosa oportunidade que tem de estudar, seu concorrente não vai marcar bobeira e tomará o seu lugar na corrida rumo ao cargo público. Se, ao contrário, você souber desfrutar dos seus dons e tirar proveito das chances que lhe forem oferecidas, prosperará. Não se trata de um jogo de soma zero, em que uma parte precisa perder para outra ganhar. O jogo é plantar para depois colher.

Pense nisso. Seja um fora de série usufruindo da sua inteligência, da sua perseverança e da sua capacidade de fazer a diferença, entre tantos outros atributos que lhe foram confiados. Vá à luta e supere a si mesmo. Você consegue!

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Gabriel Granjeiro – Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 10 anos. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino a distância.

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20 de Julho de 2020