O fundo de um buraco ensina mais que o topo das montanhas

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27 de junho4 min. de leitura

Você sente que chegou ao fundo do poço ou que está perto disso? Então trate de se animar, porque, embora você talvez nem saiba, este será o momento de maior aprendizado da sua vida. Quero lhe contar uma história que ilustra bem isso, muito melhor do que eu poderia argumentar aqui. Vou fazê-lo a partir de uma parábola, de autoria desconhecida, que adaptei para nossa conversa semanal.

Certo dia, um velho e sábio jumento proseava com o netinho quando este perguntou: “Vovô, o que é preciso para ser tão feliz e bem-sucedido como o senhor?” O jumento respondeu contando um episódio que protagonizara na juventude:

“Muitos anos atrás, eu estava passeando num campo, distraído, quando caí numa cisterna funda e abandonada que havia na propriedade. Apesar da queda, não me feri, mas fiquei apavorado, pois não sabia o que fazer para sair daquele buraco. Lá permaneci, aturdido e com medo de morrer, até que o dono das terras apareceu. Ele olhou para mim e esboçou um sorriso – não sei se de pena ou de sarcasmo –, virou as costas e foi-se embora. No dia seguinte, voltou com várias outras pessoas, e o grupo começou a tentar me tirar do poço.”

O jumentinho nem piscava, prestando atenção a todos os detalhes da história.

“A cada tentativa dos meus salvadores de me içar para fora, eu ficava mais e mais aterrorizado. Achava que jamais conseguiriam me tirar dali. Tinha medo de cair novamente e me machucar pra valer. A certa altura, meu dono ficou farto e disse em alto e bom som:

– Bem, pessoal, chega! Essa cisterna já está seca e não serve para nada mesmo, assim como esse jumento, que está velho e já deu o que tinha que dar… Vamos tampar o buraco e enterrar o animal aí dentro. Assim resolveremos dois problemas de uma só vez.

“Para meu pavor e sofrimento, começaram a jogar terra e entulho sobre o meu lombo e a minha cabeça. Aquilo me incomodava demais, de verdade, e acho que por isso, a cada vez que o entulho caía, eu me sacudia todo e pisava a terra abaixo de mim, e me sacudia de novo, e pisava a terra… Era cansativo, mas era também a única coisa que eu podia fazer naquele tormento. Agi por instinto, entende?

“Foi então que compreendi: é nos momentos de desespero, quando você não tem alternativa, ou quando a única disponível é ser forte, que você renasce das cinzas. De fato, meu jovem, eu tirei força não sei de onde, mas, depois de algumas horas apenas recebendo terra e entulho no lombo, sacudindo e pisando, me dei conta de que estava quase saindo do buraco. No fim, o poço estava fechado e eu me encontrava são e salvo na superfície. Feliz, saí relinchando e trotando.

“Esse episódio me serviu de lição. Hoje, sempre que jogam qualquer entulho ou lixo sobre minhas costas, tudo que faço é sacudir e pisar. Assim, o que tenho a dizer a você é: sempre que se vir numa situação-limite, cercado de gente querendo o seu mal, o seu fracasso, trate de se sacudir e de pisar. Vá se afastando, um passo de cada vez, dessas pessoas que gostariam de enterrá-lo vivo.

“Em resumo, meu netinho, a vida nem sempre será lá muito bondosa com você. Ao contrário, lançará pedras em seu caminho e se revelará particularmente cruel quando você estiver na pior. O segredo, então, para manter o ânimo e continuar firme na busca pela felicidade, é sacudir a poeira do corpo e avançar da forma que puder. Cada injustiça que você vier a sofrer, cada adversidade que tiver de enfrentar, cada obstáculo que precisar superar, cada problema que for obrigado a resolver deve ser encarado como mais um degrau na escada rumo à realização dos seus projetos e sonhos.

“Um detalhe, meu netinho: depois que retomei os afazeres na roça, o sertanejo proprietário da terra passou a me tratar muito mal. Num dos episódios de abuso, reagi por instinto e o mordi. O ferimento da mordida infeccionou e acabou matando por choque séptico o homem que tentara me enterrar vivo. Percebe como um erro que cometemos pode terminar se voltando contra nós mesmos para no mínimo nos assombrar? Por isso, cuidado com a maneira como você trata os outros. Nunca, jamais tente ferir a honra de alguém, nem prejudicar quem quer que seja a fim de obter uma vantagem pessoal, não importa que esse alguém seja ‘apenas’ um velho animal.

“A partir de agora, se a vida parecer disposta a apenas piorar sua situação, lembre-se da história deste seu velho avô. Daqui para a frente, trate de sacudir e pisar, e sacudir e pisar, e sacudir e pisar mais um pouco, que o mundo há de voltar a lhe sorrir. E nada de se sentir injustiçado, porque esse é um dos mais ingratos e infrutíferos dos sentimentos. Saiba, enfim, aprender com as agruras de chegar ao fundo do poço. Talvez você precise passar por essa experiência antes de compreender como as coisas funcionam e, então, finalmente voltar a subir até alcançar o topo do mundo.”

Sabe, amigo leitor, nossas atitudes e escolhas, além do olhar que lançamos sobre os problemas, determinam o mundo que vamos legar para nós e os nossos. Elas são a base para o sucesso ou o fracasso. Em outras palavras, nossas ações e reações abrem ou fecham o caminho para o que desejamos em nossa vida. Podemos adotar uma postura pessimista e até conformista diante das adversidades da vida, mas será essa a melhor decisão que podemos tomar?

“Quando estiver no fundo do poço, a primeira coisa a fazer para sair dele é parar de cavar.” – Mário Sergio Cortella, filósofo e escritor

 

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