Dores de crescimento

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25 de abril3 min. de leitura

Eu me lembro bem: de repente, ali pelos meus 12, 13 anos, comecei a sentir dores por todo lado. Preocupado, acionei minha mãe. Felizmente, porém, não havia nada de errado comigo. Era apenas o estirão acentuado típico da puberdade, que de uma hora para outra me fizera ganhar bons centímetros de altura, mas não fora exatamente bem recebido por todo o meu corpo. Com o tempo, as dores nos joelhos, nas coxas, nas panturrilhas e na região anterior das pernas sumiram, e tudo se harmonizou.

Embora nem todos experimentem as famosas “dores de crescimento”, o fato é que o descompasso entre o crescimento dos ossos e dos tendões é normal. Assim como também é normal haver algum desalinho entre o ritmo das mudanças que surgem em nossa vida e nossa capacidade de lidar bem com elas. Ora, amigo leitor, crescer às vezes dói. E digo mais: não dói apenas no corpo; dói também na alma. Seja no estirão da adolescência, seja nos avanços na seara profissional ou no campo pessoal, nem sempre há como evitar os incômodos que acompanham tantas mudanças.

Se, para ganhar altura e força muscular, o corpo pode sofrer um pouco, o mesmo se dá com a mente e o espírito a cada nova provação. Logo, se nossa disposição for crescer pessoal e profissionalmente, precisamos estar cientes de que um pouco de dor talvez seja inevitável. Mais que isso, ela costuma ser proporcional ao tamanho das nossas ambições. Aliás, se você enxergar pelo ângulo certo, talvez perceba como é importante senti-la. Afinal, dores de e do crescimento só afligem quem está em franco progresso e sinalizam que a passagem para o próximo nível é iminente.

Imagino que você já tenha enfrentado dores psíquicas em sua vida. As mais intensas, acredito, devem ter ocorrido em momentos de virada, não? E como você lidou com elas? Tenho certeza de que, se tiver procurado entender o que elas estavam tentando lhe dizer, deve ter experimentado algum tipo de epifania. Dores assim ensinam muito. Com elas aprendemos demais sobre a vida, mas principalmente sobre nós mesmos. Em outras palavras, a dor ajuda a evoluir. Quem compreende isso não foge mais de realidades dolorosas. Em vez disso, passa a ver nelas uma excelente fonte de aprendizado.

Em resumo, a dor é um forte indício de que há algo a ser aprendido numa dada experiência. Cabe a quem dela padece refletir adequadamente sobre tudo que está acontecendo em sua vida. A fórmula é simples: Dor + Autoanálise = Progresso. Ocorre que, em regra, quem sente dor não consegue, num primeiro momento, manter a cabeça fria para se entregar a essa análise. Ainda assim, a fase inicial é a melhor para se fazer o registro preciso de emoções como raiva, decepção e frustração. Pensando nisso, o investidor americano Ray Dalio criou um aplicativo curioso que batizou de “Botão da Dor”. A ferramenta serve para as pessoas registrarem as emoções e mais tarde retornarem a fim de pensar melhor sobre o que aconteceu, respondendo algumas perguntas voltadas à reflexão orientada. É quase como ter um psicólogo no bolso, sempre disponível. Prático, não?

Se a maioria das pessoas têm dificuldade de analisar as próprias emoções no auge da dor, para piorar, elas também mudam o foco depois que a sensação mais intensa se dissipa. Seja como for, o importante é refletir, ainda que passado o momento ideal. Qualquer autoanálise é valiosa. A decisão de olhar para si mesmo, avaliar os próprios sentimentos e tentar compreender a relação deles com o mundo exterior é o primeiro passo para tornar-se apto a pensar em profundidade, aprender e começar a fazer escolhas mais sábias. Se você encontrar uma forma de refletir a respeito dos seus problemas, ótimo! Eles tenderão a desaparecer ou, ao menos, a encolher bastante. Não há segredo: olhando nos olhos do inimigo quase sempre se enxerga a fragilidade que ele tenta esconder.

Em síntese, é inútil se esquivar das dores da vida. Pode-se até evitar uma hoje, mas outra surgirá amanhã. Da mesma forma que aceitamos as dores musculares decorrentes da súbita troca do sedentarismo por uma rotina saudável de exercícios, precisamos encarar as dores do crescimento como regra do jogo. Temos de entender que a alternativa é muito pior: amargura, frustração, arrependimento. Assim, aceitar os desconfortos que surgem em nossa trajetória e desenvolver o hábito de aprender com eles é o melhor a fazer. A dor é o sinal, percebe? É a vida dizendo que chegou a hora de avançar.

Sentindo dor, extraindo dela o que há para extrair, viciando-se em refletir, aprender e progredir, você estará mais perto de reunir as condições para reconhecer e administrar melhor as próprias fraquezas. No mínimo, ganhará em autenticidade e em segurança para ser você mesmo em vez de seguir refém das opiniões dos outros.

Então faça um favor a si mesmo e enxergue as dores de e do crescimento pelo que elas são: mais uma fase a ser superada em sua jornada rumo ao progresso pessoal e profissional. Um dia, quando você menos esperar, elas terão ficado para trás, e você se verá maior e mais forte.

“O homem precisa de dificuldades. Elas são necessárias à saúde.” – Carl Jung (1875-1961), psiquiatra suíço.

 

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