O ser humano é biologicamente desenhado para ser antifrágil. “Como assim?”, você pode perguntar, e eu explico. Se você derrubar uma taça de vinho de uma mesa, ela certamente se quebrará, espalhando cacos perigosos pelo chão, certo? E, se você lançar da mesma altura um copo plástico de qualidade, o que acontecerá? Nada, ele permanecerá intacto. A taça de cristal, todos sabemos, é um objeto frágil – por isso mesmo costumamos manuseá-la com extremo cuidado. Então, seguindo o mesmo raciocínio, o copo de plástico seria… antifrágil? Não! Ele pode ser considerado, no máximo, resiliente, pois não melhora nem piora depois de posto à prova.
É diferente quando se trata de nós, homens e mulheres desejosos de grandes feitos. Nassim Taleb, professor da New York University, identificou uma característica fundamental que nos permite prosperar em meio a frustrações, problemas sérios e até mesmo caos[1]. Ele chamou essa característica de “antifragilidade”. Diferente da resiliência, que nos permite suportar choques sem grandes mudanças, a antifragilidade nos faz melhorar, evoluir, tornando-nos mais fortes e preparados para futuros desafios. Taleb argumenta que a antifragilidade é inerente ao ser humano e essencial para enfrentarmos as incertezas do mundo que nos cerca.
Veja que interessante: as árvores expostas a ventos fortes desde jovens conseguem, quando adultas, manter-se firmes durante as piores tempestades. Em contraste, aquelas que crescem protegidas em estufas podem, quando maduras, tombar sozinhas devido ao próprio peso, tamanha a dependência do apoio externo que desenvolveram. Com essa analogia, quero que você reflita sobre como a proteção absoluta contra as adversidades pode não ser uma boa ideia, especialmente para quem está em processo de desenvolvimento.
Outra maneira de ilustrar a importância da antifragilidade é observar nosso sistema imunológico e sua evolução ao longo da vida. Um bebê, ao nascer, sai de um ambiente totalmente protegido, a barriga da mãe, para outro bem mais hostil. Nos primeiros meses de vida, ele merece todo o cuidado do mundo, dada sua fragilidade. Nas etapas seguintes do seu crescimento, porém, tudo muda, e a exposição a certos riscos é inevitável e até necessária. Pais que criam os filhos em uma bolha de perfeita higiene, recusando-se a deixá-los brincar no parquinho, rolar na areia ou ir a festinhas, acabam criando pessoas bem mais suscetíveis a gripes e outras doenças. Por sua vez, as crianças que vivem uma infância repleta de brincadeiras – com supervisão, é claro –, sujeira e bagunça, vão, sim, pegar uma virose de tempos em tempos, mas a cada recuperação estarão mais fortes. Todos nós passamos – ou deveríamos passar – por isso.
O mesmo se observa em relação ao nosso desenvolvimento cognitivo e psicológico. Crianças poupadas de tudo, cercadas de cuidados para que jamais caiam de um brinquedo, cometam erros ou se frustrem ao perder ou deixar de ganhar algo, tendem a se tornar adultos ansiosos, de baixa autoestima ou, por que não, mimados. Já aquelas a quem é permitido correr certos riscos controlados aprendem desde cedo a autogestão emocional e uma máxima da vida: não há como viver sem passar por frustrações. Elas nos fazem fortes. Como ensinam os estoicos e os budistas, a felicidade não é fruto da ausência de adversidades, mas da presença de espírito para não admitir que eventos externos roubem nossa alegria[2].
Além disso, estudos em psicologia positiva indicam que a exposição controlada a pressões pode realmente aumentar nossa capacidade de lidar com futuros desafios. Esse conceito, conhecido como “inoculação de estresse”[3], mostra que pequenas doses de dificuldade ajudam a construir uma espécie de imunidade psicológica. Graças a ela, passamos a enfrentar as crises com maior resiliência e criatividade. A mente humana funcionaria como um músculo que precisa ser tensionado e progressivamente desafiado para continuar se desenvolvendo.
Pense um pouco: por que as crianças se envolvem deliberadamente em atividades que apresentam algum perigo? Pode-se argumentar que elas não sabem medir os riscos, o que é verdade… Mas não é só isso. Aparentemente, o ser humano é propenso a descobertas, a ensaios e erros, ao enfrentamento de ameaças em prol do desejo de triunfar, de aprender ou apenas de se entreter. Garotos e garotas que conseguem escalar uma parede de rapel baixinha logo partem para paredes mais altas, ainda que ninguém os estimule a fazer isso. É algo instintivo. Eles podem cair várias vezes nas tentativas, mas, tão logo chegam ao alto, querem ir além. O que é isso? Antifragilidade. Aqueles pequenos seres humanos vão se modificando, e para melhor, a cada obstáculo superado.
Você, concurseiro, embora já adulto, ainda carrega em si a antifragilidade de uma criança. As dificuldades, adversidades e dores que você enfrentou ou enfrenta, se não o mataram, o tornaram mais forte. Você aprendeu algo com elas. Aliás, ainda está aprendendo, e se modificando, e melhorando. Não permita que condições alheias a sua vontade destruam toda essa força transformadora que está dentro de você.
Seja antifrágil. Torne-se melhor a cada obstáculo superado, aí incluídas as frustrantes reprovações que fizerem parte da sua jornada. O sucesso virá. É tão inevitável quanto cada uma dessas provações.
[1] TALEB, Nassim Nicholas. Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos. 15. ed. Rio de Janeiro: Best Business, 2014.
[2] HAIDT, Jonathan. A geração ansiosa. São Paulo: Companhia das Letras, 2024.
[3] MEICHENBAUM, Donald. Stress inoculation training. New York: Pergamon Press, 1985.
Gabriel Granjeiro
Presidente e sócio-fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 15 anos. É autor de livros e artigos que já foram lidos por mais de 1 milhão de pessoas e formou-se com honors em Administração e Marketing pela New York University Stern School of Business.
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Assim
Como consegui depois de muitos anos tentando. Uma dica sua foi um norte para passar baixo de Deus foram suas instruções.