“Melhor é o homem paciente do que o guerreiro, mais vale controlar o seu espírito do que conquistar uma cidade.” Provérbios 16:32
O autoconhecimento salva! É sério. Quem conhece a si próprio é mais capaz de controlar as emoções, sejam elas positivas ou negativas, e, por consequência, lida melhor com as dificuldades e os obstáculos da vida. Sim, amigo leitor, querida leitora, é assim porque a pessoa que conhece bem a si mesma consegue ser crítica o bastante para identificar as próprias falhas e práticas nocivas e, talvez, impedir que se tornem habituais.
O psiquiatra Carl Jung dizia que as pessoas são capazes de fazer “qualquer coisa, não importa quão absurda, para evitar enfrentar suas próprias almas”. Elas costumam agir dessa forma porque o autoconhecimento é mesmo um processo doloroso. Basta dizer que um de seus estágios é o do enfrentamento das próprias carências, esse que é um território perigoso no qual muita gente desperdiça seus melhores anos.
Todavia, quem não se conhece não é capaz de ajudar ninguém, muito menos a si mesmo. Se ignoramos o que se passa aqui dentro, ficamos cegos também para o que é importante lá fora. Simplesmente deixamos de desenvolver a habilidade de distinguir aquilo que é real daquilo que está apenas em nossa imaginação. Segundo o filósofo Leandro Karnal, “na prática, o caminho mais fácil é colocar a culpa do fracasso afetivo no outro, a dificuldade profissional na inveja alheia e a falta de harmonia nacional na ação do grupo rival. Nossas explicações retiraram o eu da resposta”.
Por sua vez, aqueles que praticam algum nível de introspecção, refletindo sobre as experiências vividas, seus medos e o que mais se passe em seu íntimo, tendem a lidar bem com os próprios fantasmas; ao menos melhor do que a média das pessoas. Afinal, tais assombrações só nos deixam em paz no dia em que fixamos nelas os olhos. Sem hesitar.
A propósito, nunca é demais lembrar que a porta de entrada para nossa alma são justamente os olhos. Eles conectam o mundo exterior com a nossa mente. Se baixamos a guarda, damos franco acesso a nossas inseguranças, imperfeições, emoções, e é isso que nos torna vulneráveis. O problema é: enquanto alimentarmos o medo de estabelecer essa conexão, jamais o superaremos.
É aí que entra o amor-próprio. Esse instrumento é tão poderoso que, usado com sabedoria, transforma tudo. O amor que damos e recebemos funciona como equilíbrio que nos mantém de pé, isso, é claro, se não nos doarmos a ponto de nos esquecermos de nós mesmos (Leia meu artigo sobre “Autocuidado”). Se for o seu caso, desacelere um pouco – e logo! –, sente-se em um lugar reservado e se dê uma chance, ouvindo a si mesmo. Siga o conselho do padre Fábio de Melo: “Respire. Reencontre a alma do corpo, a pausa que desperta a alma… Reencontre-se. Porque nada pode ser mais importante do que viver em si mesmo”.
Se você dedicar ao menos uma hora do seu dia para se conhecer melhor e se amar mais, no médio prazo terá se preparado muitíssimo bem para afastar problemas de autoestima e sentimentos como inquietude, frustração, ansiedade, instabilidade emocional e outros.
Então se conceda algumas pausas, sobretudo quando tudo parecer muito pesado. Elas são essenciais para o autoconhecimento, que, por sua vez, vai ajudar você a se esquivar das armadilhas plantadas em seu caminho e a desviar das pedras que eventualmente atirarem em você.
Permita-se rir ou chorar conforme a sua vontade, de ninguém mais. Tenha em mente os seus reais desejos e objetivos para conseguir dizer não se lhe pedirem algo que você não está disposto a dar. Faça, enfim, o que é importante para você.
“Conhece-te a ti mesmo”, ensinaria Sócrates. Que tal fazê-lo num jardim, lugar perfeito para a contemplação, isto é, para o descanso do pensamento e o ouvir a própria alma? Procure por um jardim e passeie por ele. Note os encantos que há nas plantas ornamentais, nas árvores, nas flores… Há mais beleza nelas e na vida que pulsa ao redor do que nas formulações elegantes que as palavras são capazes de produzir. Há mais encanto nas nuvens no céu do que em qualquer frase que se consiga proferir. É por isso que temos de experimentar, sorver os sabores do mundo com humildade e simplicidade.
Quando finalmente nos conhecemos bem, enxergamos que o outro é a extensão de nosso eu, e essa visão faz doer tudo se não formos capazes de administrar os sentimentos que acompanham tal epifania. É como ocorre no processo de formação de uma pérola: o que antes era um grão de areia causando irritação e dor vai se convertendo em uma valiosa joia, tudo porque a ostra, incomodada, passa a depositar camadas de nácar em torno do grão a fim de torná-lo uma substância lisa e compacta. Moral da história: converta em algo de rara beleza as dores e provas a que for submetido. Serão suas pérolas de sabedoria e de resistência.
O autoconhecimento é uma ferramenta poderosíssima. Para dizer o mínimo, permite saber quando é hora de aceitar uma derrota e quando é hora de ter paciência para aguardar a vitória. Lembre-se: ninguém jamais será tão comprometido com você como você mesmo; ninguém jamais se interessará tanto pelo seu bem-estar quanto você próprio. Potencialize o autoconhecimento e o autocuidado para se manter em paz e tranquilo com essa verdade.
“Tudo o que nos irrita sobre os outros pode nos levar a uma compreensão de nós mesmos.” – Karl Gustav Jung (1875-1961), psiquiatra suíço
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