“Eu quero desaprender para aprender de novo. Raspar as tintas com que me pintaram.” – Rubem Alves.
Você e eu não viemos ao mundo sabendo o que devemos e o que não devemos fazer na condição de homens e mulheres. Sempre houve uma pessoa que, num dado momento, nos ensinou algo sobre o mundo. Nossa família nos encaminhou nas primeiras fases da vida, nossos professores construíram o conhecimento formal que hoje nos abre portas, um amigo mais experiente nos ajudou na integração à vida em sociedade… Em cada fase, pudemos contar com alguém para nos orientar. O problema é que, mesmo quando nosso mentor tinha as melhores intenções, seus ensinamentos chegavam até nós inevitavelmente contaminados por um entendimento de mundo que era todo dele. Querendo ou não, nossos pais, avós, parentes, professores e amigos transferiram para nós modelos dos quais talvez seja melhor nos libertarmos.
De repente você se dá conta de carregar conceitos tão entranhados em si que, mesmo tentando se livrar deles, não consegue. Sabe que alguns têm causado mais mal do que bem, percebe que são resultado de uma vida inteira sendo reprimido quanto a vontades que, sim, fazem todo o sentido para você, mas, de tanto ser tolhido, sente-se incapaz de se libertar das ideias limitantes cravadas em sua alma. O que ocorre, meu amigo, minha amiga, é que você provavelmente está se pautando na solução errada. Não se trata de ir em busca de novos conhecimentos para acrescentar aos já internalizados. Não, o que é preciso, mesmo, é tentar desaprender o que o impede de agir conforme a sua vontade. Você leu certo: meu conselho é que você desaprenda certas coisas.
Todos precisamos desenvolver novas competências e assimilar certos conteúdos a fim de garantir uma carreira de sucesso. Temos de evoluir continuamente, é claro. No entanto, de nada adianta acumular conhecimento se alguns dogmas que internalizamos seguirem cerceando nosso potencial. Quando algo está roubando a luz do nosso dia ou nos puxando para o fundo do rio, podemos e devemos fazer algo a respeito, ainda que seja abandonar algumas verdades que nos são caras. Não tenha medo de entrar em confronto consigo mesmo nesse processo de desapego.
Em artigo publicado na conceituada revista de negócios Harvard Business Review, Mark Boncheck fala da necessidade de desaprendermos algo, sobretudo se esse algo está dificultando o nosso crescimento. Ele não se refere a um processo de mero esquecimento, mas à escolha deliberada de um novo modelo mental ou paradigma, em substituição a outro que esteja funcionando como fator limitante. Segundo Mark, quando aprendemos, adicionamos conhecimentos aos que tínhamos. Quando desaprendemos, saímos de um dado modelo mental para perseguirmos outro.
E o que isso tem a ver com seus estudos para concursos e provas, amigo leitor? Explico. Talvez você nem tenha consciência disso, mas provavelmente sua autoimagem é toda moldada nas percepções que os outros têm de você. Elas foram tão exaustivamente repetidas ao longo da sua vida, que só podem ser verdadeiras, não é? Você sabe o que esperam de você e até onde pode chegar, não sabe?
Realmente, as impressões vindas de pessoas importantes para nós têm muita força na construção do que acreditamos ser e, em geral, promovem uma visão deturpada e limitante de nós mesmos, isso se não formos fortes o bastante para percebermos a armadilha e não cairmos nela. No canal Imparável, já entrevistei muita gente de origem humilde que perdeu as contas das vezes que ouviu de amigos e familiares: “pobre não passa em concurso”. Apesar de tamanha falta de incentivo, os atuais servidores, em algum momento, precisaram se desligar desse modo de ver o mundo e adotar um novo paradigma, no qual tinham alguma chance. O ponto de virada, na maioria dos casos, foi conhecer a história de alguém que partiu de situação parecida e chegou lá. “Se ele conseguiu, eu também consigo”, pensaram. É por isso que prezo demais os testemunhos e as histórias de sucesso. São fundamentais para quem precisa desaprender limitações.
Mas como desaprendemos algo? O professor Moncheck explica. São três fases:
1) Conscientização:
Se você tem a intenção de passar em um concurso e mudar de vida, por não aguentar mais as coisas como estão, precisa se desconectar do modelo mental em que as pessoas – intencionalmente ou não – o enquadraram. Traga para o nível da consciência esse paradigma e se esforce para contestá-lo. O desafio é enorme, pois os arquétipos nos quais você acredita provavelmente foram construídos em você ainda na infância, residindo, hoje, em seu subconsciente, mas saiba que é possível. De nada adianta que sua escolha de estudar para concurso seja legitimada por terceiros, se não o for por você mesmo. Permita-se!
2) Ação:
Comece, desde já, a criar outro modelo mental, mais propício ao sucesso. Ações pouco ortodoxas podem ser necessárias, na medida em que você terá de elaborar algo sem parâmetros de referência. Que tal começar investindo naquilo em que você é bom? Seja ainda melhor! Pare de se concentrar em seus pontos fracos e abra espaço para que sua competência se desenvolva. Ela será a sua segurança, o seu diferencial competitivo. Abandone velhos hábitos, preconceitos, atitudes negativas, técnicas ultrapassadas, habilidades desimportantes, crenças limitantes, e espelhe-se em quem faz acontecer, ainda que isso lhe custe distanciar-se de quem contribui para o pensamento que outrora o paralisava. Muitas das limitações autoimpostas vêm de relacionamentos que perderam o propósito.
3) Assimilação:
É hora de enraizar o novo modelo mental. Abra espaço para os hábitos bons entrarem de vez em sua vida. Tente ser uma pessoa mais proativa, tolerante a riscos, adaptável a qualquer situação e apreciadora de desafios. Tenha em mente que, se descuidar, a tendência é voltar ao antigo modelo limitante, se não nutrir os novos hábitos continuamente. Aprenda mais sobre como criar melhores hábitos AQUI e monitore com atenção gatilhos que podem fazer você retomar a rotinas anteriores. Pode parecer banal, mas até a escolha de palavras no dia a dia impactam a capacidade de virar a chave.
Desaprenda o que não merece mais ser carregado por você. Desaprenda que sua classe social o impede de ascender a uma vaga no serviço público. Desaprenda que você não tem capacidade para ser aprovado. Desaprenda que o fato de você trabalhar dificultará sua aprovação. Desaprenda que você já passou da idade de recomeçar.
Há fases na vida em que todos temos de agir conforme o figurino que criaram para nós. Muitas vezes, é questão de sobrevivência. Mas cuidado para não assumir essa postura como definitiva. Não torne condenação eterna o que por um tempo foi recurso de autopreservação. Nada de ser leal às limitações impostas pelos outros, mesmo que os “outros” sejam seus amados pais.
Tenha paciência e seja gentil consigo mesmo, valorizando os próprios talentos e virtudes. E saiba que o processo de desaprendizagem não é linear, tampouco fácil. E leva tempo. É como reaprender a andar de bicicleta, mas em uma que responde de forma inversa aos comandos do guidão. Você certamente vai sofrer algumas quedas, até que o cérebro se desvencilhe do antigo modelo mental. Com insistência, o resultado virá, e será exponencial. Quando menos esperar, você estará em alta velocidade, sentindo o vento no rosto.
“Não podemos resolver nossos problemas com os mesmos pensamentos que tivemos quando os criamos.” Albert Einstein
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Gabriel Granjeiro – Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 10 anos. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino digital.