Para que algo termine, tem de começar. Um navio, para zarpar, precisa de alguém que recolha as âncoras e inicie as manobras de navegação. Um trem, para viajar de uma estação a outra, depende de alguém dar a partida na locomotiva e fazê-la tracionar os vagões. A partir daí, embarcação e comboio começam a se mover, primeiro devagar, depois mais rápido, mais rápido, até que, quando pegam velocidade, o difícil é pará-los. Quem diria que, antes do movimento inicial, um pedaço de metal no fundo do mar – no caso do navio – e um simples cubo de metal ou uma sapata – no do trem – bastavam para segurar por completo as duas máquinas.
Isso ilustra como todo fim carece de um início. Mas o sucesso de qualquer movimento depende também da forma como se dá esse início. Tomemos o exemplo de um time de futebol prestes a entrar em campo. O desempenho do grupo no jogo será melhor quanto melhor houver sido sua preparação antes do grande dia. As táticas pensadas pelo treinador, o talento individual de zagueiros, centroavantes, atacantes e goleiros, o empenho e a dedicação de cada um durante os treinos, todos esses fatores serão determinantes para o placar no fim do segundo tempo.
Em outras palavras, sem um bom início, o fim idealizado pode se mostrar inalcançável. Muita gente ainda faz vista grossa a essa realidade, achando que pode chegar a um bom termo sem um começo apropriado, mas a dura verdade é que a maneira como iniciamos nossos projetos dá uma boa dica de como eles se encerrarão. Objetividade, no ponto, é crucial: importa definir o quanto antes quais são os nossos planos e dar logo o primeiro passo, de forma criteriosa e bem-pensada. Nada de adiar indefinidamente o início, pois isso significa postergar também o fim.
E, por favor, não sucumba diante das adversidades nem perca tempo lamentando pelo que lhe falta. Em resumo, não ceda à autopiedade. Ao contrário, agradeça pelo muito ou pouco que você já tem, considere isso um bom começo – é, afinal, o SEU começo – e vá abrindo caminho em direção a algo melhor. Já dizia o professor Edilson Enedino, ex-flanelinha e hoje juiz de direito, que o pulsar do coração, cada batida dele é a vida nos lembrando: “Dá tempo, ainda dá, é possível”.
Pensando nas palavras de Enedino e aproveitando a proximidade do Dia dos Professores, vou recorrer às lições que aprendi com o magnífico filme “O Clube do Imperador”, ao qual assisti por indicação do nosso mestre. O enredo desenrola-se na tradicional escola St. Benedict’s, nos EUA, exclusiva para rapazes. Por aqueles bancos passa a elite americana; de lá saem futuros governantes, políticos, empreendedores, advogados e outros profissionais que costumam fazer a diferença no país.
O filme narra a tentativa do professor de História Antiga William Hundert de, a partir do legado de filósofos gregos e romanos, ensinar aos alunos como o destino de uma pessoa está diretamente associado ao seu caráter. O Sr. Hundert procura demonstrar aos jovens estudantes que o futuro profissional de cada um deles depende da dedicação aos estudos no presente e da conduta correta na escola e na vida.
O lema da instituição, que os alunos carregam bordado no bolso do uniforme, é: “Non sibi. Finis origene pendet.” Traduzido, quer dizer: “Não para si. O fim depende do começo.” O mestre ensinava, mais, que todo o conhecimento ali adquirido de nada valeria se não fosse para servir ao próximo. Deixava claro que a vida e a história não perdoam aqueles cuja ambição e conquista não oferecem nenhuma melhoria para os outros. Eis um grande alerta para os nossos líderes.
A vida do professor Hundert ia maravilhosamente bem. Ele seguia lecionando com emoção, alegria, dedicação, integridade e idealismo até que chega transferido à escola um novo aluno. Sedgewick Bell era teimoso em relação às regras do local e não nutria muito interesse pelos estudos. O rico filho de um senador poderoso era tão arrogante, que o nosso mestre se viu compelido a dar-lhe a primeira lição, na forma de um conselho de Aristófanes dedicado aos eternamente medíocres: “A juventude envelhece, a imaturidade é superada, a ignorância pode ser educada e a embriaguez passa, mas a estupidez dura para sempre”.
Numa cena mais para o fim do filme, vê-se o aluno, já adulto mas com a mesma falta de caráter, ser repreendido pelo ex-professor depois de trapacear num concurso de conhecimentos sobre história antiga, em que o vencedor receberia uma coroa de louvor como o grande imperador Júlio César. O mestre, sabedor da trapaça do ex-aluno, volta à carga com uma dura lição de ética e moral: “Todos nós, em algum momento, somos forçados a olhar no espelho e ver quem realmente somos. Quando esse dia chegar, você vai perceber que a vida vivida sem virtude, sem princípios, não é vida”.
O ensinamento que o filme traz é o de que caráter não é uma escolha, mas reflexo da educação recebida dos pais desde a infância e das escolhas feitas a partir de então. Educação verdadeira, genuína, tem, portanto, de dar significado à vida, no sentido de pautá-la em princípios nobres e sólidos. A missão de moldar o caráter de uma pessoa é tão importante justamente pelo poder de impactar o destino dela e de todos a sua volta.
Sabe, a história é feita de vidas, e vidas são feitas de momentos e atitudes. Eis, enfim, o segredo de um bom fim: o começo.
Inicie o que você precisa fazer e jamais desista da jornada. Nós, do Gran, estamos aqui para ajudar você, sempre.
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