Não dê suas pérolas aos porcos

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O que você acha que aconteceria se jogássemos pérolas preciosas aos porcos? Muito provavelmente eles as comeriam, confundindo-as com outro alimento qualquer. Não fariam isso por mal, é claro, mas apenas por serem incapazes de alcançar o significado que socialmente atribuímos à joia. Para eles, ela simplesmente parece não ter função nenhuma, logo deve ser de comer…

Já entre nós, seres humanos, as pérolas são objetos dotados de grande valor econômico. Por extensão, no sentido figurado ganham conotação de algo que nos é muito caro: nosso tempo, nosso amor, nossos sonhos. Nesse contexto, é uma necessidade humana refletir sobre a conveniência de compartilhá-las com uma ou mais pessoas. Mais que isso, é prudente pensar bastante antes de decidir com quem fazê-lo. Se jogarmos nossas pérolas àqueles que não conseguem enxergar nelas a mesma importância que nós, estaremos, na prática, desperdiçando-as, o que pode ser fonte de enorme frustração.

O Livro Sagrado, nas lições do Maior dos Mestres, em Mateus 7:6, ensina: “Não deem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos; caso contrário, estes as pisarão e, aqueles, voltando-se contra vocês, os desperdiçarão”. O que isso quer dizer? É simples: que jamais devemos entregar uma riqueza nossa a quem não sabe cuidar dela. Nunca devemos dar o que temos em mais alta estima a quem ignora ou não está disposto a compreender tal apreço. Em sendo assim, caro leitor, preserve seu talento e seu precioso tempo, evitando desperdiçá-lo com quem não merece sua confiança ou com quem nem sequer consegue discernir uma pérola de uma pedra.

Se o outro despreza a sua entrega, o seu carinho, o seu amor, a sua ternura, está na hora de refletir se você deve continuar destinando a ele pérolas tão valorosas como essas. Claro que é preciso ajudar as pessoas sem esperar nada em troca; todavia, é prudente dedicar o que temos de mais sagrado dentro do coração apenas a quem faz jus.

O termo “pérola”, cabe recordar, já foi sinônimo de poder, de beleza, de pureza e força. Evocações como essas fazem sentido, pois o processo de produção da joia envolve sofrimento e termina em superação. Se você não sabe, a pérola é resultado de um mecanismo de defesa da ostra: quando um corpo estranho penetra a concha do animal e permanece ali dentro, agredindo o molusco, este, em reação, vai envolvendo o agente agressor com uma substância que, no tempo certo, dará origem à pérola. O fenômeno é raro, daí o valor econômico da joia.

A analogia com a realidade humana se justifica na medida em que vamos nos aproximando da melhor versão de nós mesmos a cada grande desafio superado. É depois de descobrirmos e admitirmos nossas vulnerabilidades que passamos a trabalhar nelas até convertê-las em pérolas, dotadas de beleza e singularidade.

Cada um de nós, no seu tempo, se torna uma pérola especialíssima que carrega dentro de si outras tantas joias, as quais igualmente nasceram de uma agressão, de um amadurecimento imposto, às vezes de verdadeiros traumas. Suas pérolas são, assim, tudo aquilo que você tem de mais valioso: paz, paciência, sabedoria, equilíbrio, bondade, empatia. Também sua família, sua saúde e até sua solitude, quando invocada e consentida, têm enorme valor, logo são joias raras. Enfim, suas pérolas são sua essência enquanto ser humano de caráter e altos valores morais. Se é assim, aja com sabedoria e só as compartilhe com quem efetivamente as merecer. Ame, pois, com equilíbrio. Doe-se, portanto, com temperança. Não seja o bobo de ninguém. Não dê suas pérolas aos porcos!

Meu conselho, em síntese, é: procure identificar, em seu caminho, aqueles que são verdadeiros amigos, aqueles que estão ao seu lado a fim de somar, de aplaudir suas conquistas, de apoiá-lo na eventualidade de você fraquejar. Seja igualmente rápido em reconhecer quem apenas suga sua energia e o explora. Para porcos como esses, nada de pérolas, até porque eles não sabem apreciar a beleza e preciosidade do que vem do coração. Ressalto mais uma vez que nem sempre gente assim age por mal; apenas nasceu programada para enxergar o mundo pela perspectiva que lhe é toda própria. Não se trata, portanto, de algo que você consiga mudar. 

E então, para quem você dedica ou dedicará o que á de mais sagrado em seu coração? A quem você dará suas pérolas? 

“Apesar dos nossos defeitos, precisamos enxergar que somos pérolas únicas no teatro da vida e entender que não existem pessoas de sucesso ou pessoas fracassadas. O que existe são pessoas que lutam pelos seus sonhos ou desistem deles.” – Augusto Cury, psiquiatra e escritor

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