Dois homens, chamados Prudente e Néscio, construíram suas casas. O primeiro, cauteloso e precavido, cavou… cavou… cavou, abriu uma vala bem profunda e, ao encontrar rocha, escorou nela os alicerces da edificação. Já Néscio, movido pela insensatez, levantou logo as paredes, direto sobre o terreno arenoso, gastando pouco e tendo certeza de ser mais inteligente que Prudente. Vistas de longe, as duas obras pareciam igualmente sólidas, robustas e seguras. Ninguém seria capaz de apontar o que tinham de diferente. O grande diferencial da erguida sobre pedra era oculto, estava enterrado metros abaixo da superfície.
Eis que vieram chuvas, seguidas de inundações. Sopraram os ventos, e temporais fizeram transbordar os rios. Sucessivas intempéries se lançaram contra as paredes das casas. A que fora edificada sobre a traiçoeira areia não resistiu nem ao primeiro choque das águas. Caiu ao primeiro vento, sendo destruída por completo. A outra, alicerçada em pura rocha, não sofreu abalo. Esse foi o prêmio do construtor que soube onde ancorar os pilares daquele que seria seu mais importante abrigo. Ficou a lição: construção alguma resiste a fortes pancadas quando mal amparada. Vai à ruína, levando consigo todos que ali estejam.
Essa parábola tem muitas interpretações. Eu a entendo como uma história sobre o poder da fé, do lar, da família, do casamento, das amizades, do conhecimento e das lições aprendidas de pais, mestres e sábios. Cada um desses aspectos de nossa vida são rocha em que devemos apoiar nossos pilares. A areia, por sua vez, representa a superficialidade das coisas e certas pessoas, o fútil, o supérfluo, o efêmero, o fugaz, tudo aquilo que cai por terra na primeira adversidade. Só permanece em pé o que tem estrutura sólida, o que tem as fundações assentadas em chão rochoso, ainda que encoberto por areia ou terra. As calamidades descritas, por sua vez, são as aflições, as intrigas, o luto, as perdas, os aborrecimentos, as frustrações, as rejeições, os eventuais isolamentos e injustiças; enfim, todos os momentos difíceis que cada um de nós inevitavelmente vivenciará em sua passagem terrena.
Só o indivíduo sabe o sacrifício e trabalho que teve para garantir robustez aos seus projetos pessoais. Ninguém é capaz de enxergar os alicerces do outro. É impossível, para mim, saber se a sua vida, leitor, está baseada em rocha ou em areia. Só se descobre quão sólida é a estrutura das pessoas quando surgem as angústias, as contrariedades, os obstáculos, os problemas, as bofetadas da vida. Nenhum desses infortúnios pode abalar seriamente a alma de quem tem por base rocha.
Isso significa, caro leitor, que a construção de um bom caminho espiritual, profissional e pessoal requer maior dedicação de quem está abrindo a estrada. O sujeito precisa encontrar, abaixo da areia, única faixa que pode ser vista por qualquer um, a camada de rocha sobre a qual deve vir o pavimento. É trabalhoso? Bastante. É difícil? Demais. É demorado? Sim, pode durar uma vida inteira. Não por outra razão muitos simplesmente desistem, abdicando de fundamentos mais sólidos em sua trajetória. Ignoram até mesmo o fato de que a rocha vai ficando mais próxima à medida que se dedicam ao ofício de cavar. A missão não é, portanto, impossível. Dificultosa, certamente, mas não impossível.
Adversidades vêm e vão para todos nós. Não é uma questão de se haverá uma próxima, e sim de quando. Então o que faz uma pessoa ruir e outra se sustentar de pé? São muitas as respostas possíveis: assimilação de princípios e valores inabaláveis, vida construída com o apoio das pessoas certas, investimento em estudo, educação e profissionalização, FÉ com ação efetiva e cirúrgica naquilo que é essencial… O imperador Marco Aurélio ensinaria: “Se achar nesta vida humana qualquer coisa melhor do que a justiça, a verdade, a temperança, a força moral […], abraça-a com toda a sua alma, e deleite-se neste bem supremo”. Vou além: sobre esse bem supremo, construa sua casa, construa sua vida.
Infelizmente, o que temos visto é as pessoas direcionarem todos os esforços para melhorar a fachada da casa, a aparência dela. Mexem no telhado e arrumam a pintura, mas ignoram que, se não estiver bem alicerçada, toda aquela beleza desmoronará na primeira torrente, na primeira chuva mais impetuosa. Deixando a metáfora de lado, bons princípios, meu amigo, minha amiga, esses, sim, ajudam a fincar os pés no chão, e não de forma superficial. Rigor com os próprios valores é o que proporciona base forte para persistirmos na busca por nossos sonhos. É dizer: quanto mais estudamos e trabalhamos com vontade, firmes em nossos valores mais profundos, maior nossa resiliência e disposição para o próximo desafio.
Mesmo que tudo pareça estar dando errado, jamais desista de construir a sua casa sobre a rocha. Quando vierem as tormentas, as intempéries, o dilúvio, você estará preparado. Dificuldades passarão, deixando apenas um rastro ao seu lado, servindo para fortalecer ainda mais a sua mente e força de vontade, tal como os exercícios físicos fazem com o corpo. Não abra mão dos seus projetos nem desista do propósito de dar o melhor para a sua família. Pode demorar um pouco, mas vai valer a pena.
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Gabriel Granjeiro – Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 10 anos. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino digital.