“É impossível aprender aquilo que consideramos já saber” – Epiteto (55-135), filósofo grego
Hoje falaremos sobre aquele que pode ser o nosso pior adversário: o ego. De antemão, esclareço que a inspiração para o título do artigo e para vários pontos a serem nele expostos foi o best-seller “O ego é seu inimigo”, de Ryan Holiday. Também deixo claro que nossa conversa não será sobre o ego no sentido freudiano do termo, descrito pelo psicanalista com a analogia de um homem (EGO) montado em um cavalo (ID), segurando as rédeas (superego). Tampouco será sobre o que a psicologia moderna denomina “egolatria”, referindo-se a alguém que é tão focado em si mesmo que despreza qualquer outra pessoa. Essas definições, embora precisas, não têm valor fora do ambiente clínico.
O ego ao qual me refiro tem a ver com a complexa desconexão da realidade. Manifesta-se pela arrogância e prepotência, de um lado, e com a incapacidade de lidar com a rejeição e com o erro, de outro. Essas formas de manifestação de um ego inflado são de tal vulto, que sabotam o indivíduo. É com o intuito de evitar isso que decidi ter esta conversa com você.
Como você sabe, muito do meu trabalho é voltado a motivar meus seguidores. Procuro ajudá-los a acreditar em seu potencial. Para os mais incautos, isso pode parecer um pouco confuso. “Como assim, Gabriel? Então, você vem criticar o tamanho do ego das pessoas, mas se dedica diariamente a explorar formas de estimular nelas a vaidade?” Nada disso, meu amigo. Não confunda ego com autoconfiança. São conceitos completamente diferentes! Como explica Holiday, “a confiança nos envolve, o ego nos manipula.” Tem potencial de levar à ruína as pessoas mais geniais, mandar pelos ares grandes fortunas, destruir empresas sólidas, transformar o esforço em vergonha.
Para manter o ego sob controle, Holiday sugere algumas armas. Detalharei cada uma a seguir.
- Torne-se um aprendiz.
Ryan Holiday traz, como exemplo, o sistema desenvolvido pelo campeão de artes marciais Frank Shamrock para treinar seus alunos. Shamrock costuma dizer que todo lutador deve ter alguém melhor com quem aprender, alguém inferior a quem ensinar e alguém no mesmo patamar com quem se comparar. Em outras palavras, ensina humildade para perceber que sempre haverá alguém “acima” de nós. Quando encontrarmos esse alguém, precisamos respeitá-lo dia após dia, mantendo a humildade de sempre. Ninguém consegue aprender se acredita que sabe tudo nem se desenvolve se estiver convencido de já ser o melhor. Veja o perigo de nutrir um ego como esse, meu amigo. Humildade e paciência não são para os fracos! Muito pelo contrário: são virtudes que nos fazem aceitar a posição de aprendizes e nos lembrarmos da importância de continuar estudando. Humildade é a chave para você, concurseiro, ser capaz de, com calma e no tempo certo, absorver todo o conteúdo para as provas e vencer todos os desafios que surgirem em seu caminho.
- Não seja apaixonado.
O ser humano até precisa de paixão para começar algo, mas é com propósito e senso de realidade que ele avança. Quem tem propósito não é imediatista e consegue não focar só em si mesmo. Passa, assim, a buscar algo útil lá fora. Propósito é, em resumo, utilidade, utilidade e… utilidade. Já o senso de realidade proporciona objetividade. Por onde começo? O que faço primeiro? E na sequência? Quais são os meus parâmetros de comparação? Todas essas são perguntas úteis a quem procura partir do concreto em busca de algo melhor. Aliando propósito e senso de realidade, a pessoa começa dando passos pequenos, avança pouco a pouco e, à medida que consolida o progresso, vai melhorando mais e mais, primeiro em escala aritmética e depois exponencial. No Gran, somos a prova de que paixão não é tudo: somos, sim, apaixonados pelo que fazemos, mas isso é só parte do que nos move. O senso de propósito e de realidade vêm completar a trinca necessária à persistência. Cuidado para não confundir os conceitos! Deixe a paixão pura e sem propósito para os ingênuos e amadores. Aja de forma racional e bem-pensada. Evite o excesso de fervor.
- Não fantasie com o próprio sucesso.
Paradoxalmente, quando alcançamos algum êxito, temos de redobrar os cuidados para não nos deixarmos levar pela euforia do momento e acreditar que tudo se desenrolou exatamente como planejado. Se acreditamos que uma conquista nossa diz muito sobre nós mesmos, corremos o risco de reduzir nossos esforços, entrando na famigerada zona de conforto. As consequências podem ser terríveis. Haverá o momento em que você terá certeza de que chegou ao auge, e acredite: será quando menos poderá relaxar. O ego estará à espreita para lhe pregar uma grande peça. Não caia nessa! Blinde-se procurando ouvir o feedback de alguém da sua confiança e fazendo uma rigorosa autocrítica. Esteja certo de que não acabou ainda. Você tem muito o que melhorar e avançar. Sucesso e liderança não se conquistam ouvindo historinhas nem acreditando apenas em talento ou em destino. São fruto de trabalho duro, criatividade e persistência. Abandone as narrativas, concentre-se nos padrões de desempenho. Comece com uma aposta pequena e aumente aos poucos as ambições. Que o foco seja o trabalho e todos os princípios nele envolvidos.
- Batalhe para ser capaz de enxergar – e domar – seu próprio ego.
Cuidado com a doença do EU. Se você acredita, ainda que lá nas profundezas da alma, ser melhor que os outros, sinto dizer: isso é orgulho e pode levá-lo à ruína. Junto ao orgulho, vem o medo de falhar e, com este, a inércia ou, pior, a paralisia. Conheço um pai de família que passou um tempo procurando emprego e, quando recebeu uma proposta, recusou por causa do salário, que avaliou ser inferior ao que merecia. Ocorre que, sem qualificação formal nem experiência, essa percepção era exclusiva dele, não do mercado. O resultado é que ele continua desempregado até hoje. O tamanho do ego o prejudicou. Já vi ocorrer algo semelhante com concurseiros. Há candidatos que não querem “se submeter” a alguns concursos por se acharem bons demais para o cargo. Perdem excelentes oportunidades de, no mínimo, ganhar fôlego para a próxima batalha. Outros são tão cheios de si que o medo inconsciente de falhar os faz inventar mil desculpas para não tentar. O fato é que, se você não desenvolver um pouco de humildade nem aprender a lidar com a rejeição, talvez nunca alcance grandes feitos.
Amigo leitor, como já conversamos em outras oportunidades, cada grande jornada começa com um sonho, uma aspiração. No entanto, muitos de nós nunca chegarão ao destino planejado, e o culpado muitas vezes será o tamanho do nosso ego. Para evitar que ele nos devore, nada como humildade, generosidade e resiliência. A prevenção é se manter conectado à realidade, por mais dura que ela seja. É praticar o autocontrole, afastar-se dos bajuladores e jamais ceder à soberba. É treinar constantemente o intelecto, procurando manter a mente sã. É, acima de tudo, ser leal a si mesmo, suspeitando de qualquer tipo de elogio precoce e desarrazoado.
Veja bem, não estou propondo que você reprima cada grama de ego que identifique dentro de si, até porque isso seria impossível. Ninguém é totalmente desapegado dos próprios valores e sentimentos. Tudo que pretendo é que você se enxergue do tamanho que é de fato, não no sentido de se desvalorizar, mas de ser realista e sem tanto medo da rejeição e dos equívocos que está sujeito a cometer. “O inimigo se esconderá no último lugar em que você o procurará (dentro de você mesmo)”. A frase de Júlio César traduz bem o que estou dizendo.
O técnico de futebol Tony Adams assim expressa o seu pensamento sobre o ego: “Jogue pelo nome na frente da camisa, e as pessoas irão se lembrar do nome que está nas costas”. Faça seu trabalho, e bem. Guie-se por um propósito e firmemente amparado na realidade dos fatos. Empenhe-se como se saísse para correr quando o mau tempo fez todo mundo ficar em casa. Ignore os aplausos, sejam dirigidos a terceiros, sejam dirigidos a você. Não se deixe envolver pela vaidade. E, então, relaxe e permita Deus agir usando você como instrumento. Isso é tudo.
Para concluir, um velho ditado celta: “Veja muito, estude muito, sofra muito, eis o caminho para a sabedoria”. Use o ego em prol da sapiência, não da ignorância.
Entendido?
“Só pode arruinar sua vida se arruinar seu caráter” – Marco Aurélio (121-180), imperador romano
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Fonte:
HOLIDAY, Ryan. O ego é seu inimigo: como dominar seu pior adversário. Tradução de Andrea Gottlieb. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2017.
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Gabriel Granjeiro – Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 10 anos. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino a distância.