“Deve-se deixar a vaidade aos que não têm outra coisa para exibir.” – Honoré de Balzac (1799-1850), escritor francês
Já ouvi muita gente boa aconselhando amigos, colegas, parentes a “diminuir o ego” quando, na verdade, quer orientar as pessoas de quem gostam a se livrar da vaidade e do orgulho. Como diria o psiquiatra Augusto Cury, “a vaidade é o caminho mais curto para o paraíso da satisfação, porém ela é, ao mesmo tempo, o solo onde a burrice melhor se desenvolve”. De fato, há que ter muito cuidado para que a presunção e a soberba não tragam infelicidade ao minar relacionamentos ou destruir sonhos como o seu, meu amigo, minha amiga, de passar em um bom concurso público.
Sei que não é muito a minha praia, mas vou tentar primeiro explicar o que é ego à luz da psicanálise. Em seguida, apresentarei as principais facetas do orgulho e da vaidade.
O ego (ou “eu”), um dos três componentes estruturais básicos da psique, responde pelo ajustamento ao ambiente e pela solução dos conflitos entre o organismo e a realidade. Lida com os estímulos originários da mente e do mundo exterior, desempenhando a função de controle sobre as exigências das pulsões (impulsos ou instintos, segundo alguns autores). É o ego que decide se esses desejos devem ser saciados, adiando sua satisfação para ocasiões e circunstâncias mais favoráveis ou reprimindo parcial ou inteiramente as excitações pulsionais. O ego atua, portanto, como mediador entre o id (elemento instintivo e inconsciente, regido pelo princípio do prazer) e o mundo exterior. Tem de lidar também com o superego (espécie de juiz que estabelece a censura dos impulsos que a sociedade e a cultura proíbem), com as memórias de todo tipo e com as necessidades físicas do corpo. Como o ego opera de acordo com o princípio da realidade, seu tipo de pensamento é verbal e se caracteriza pela lógica e pela objetividade. O ego é pressionado pelos desejos insaciáveis do id, pela severidade repressiva do superego e pelas ameaças do mundo exterior. Assim, sua função é tentar conciliar as reivindicações das três instâncias a que serve, ou seja, o id, o mundo externo e o superego. Para Freud, estamos divididos entre o princípio do prazer (que não conhece limites) e o princípio da realidade (que nos impõe limites). Por isso, é impossível subjugar o ego como muitos sugerem.
Tomemos o exemplo do concurseiro que, ao despertar numa bela manhã ensolarada de domingo, sente-se tentado a deixar pra lá o cronograma de estudos e ir passar o dia no clube pegando sol e tomando banho de piscina. O impulso de tirar o dia de folga e sem preocupação com deveres e metas é manifestação do id. O superego entra em cena para lembrar o concurseiro de suas responsabilidades, diminuindo um pouco o impulso de jogar tudo para o alto e entregar-se ao lazer. É então que nosso guerreiro, munido de um ego saudável que dá ouvidos ao seu juiz interior, abre mão do sol e da piscina e se dirige ao quartel-general dos estudos, ciente – e cioso – de sua missão.
Espero ter conseguido explicar como funcionam os elementos que compõem a nossa mente, pois agora preciso discorrer sobre as principais características, reações e atitudes das pessoas que nutrem inflados sentimentos de orgulho e vaidade. Antes, porém, cabe alertar que orgulho (em seu formato danoso), egoísmo, vaidade, inveja, ambição e ódio são variáveis do mesmo veneno que devemos eliminar do corpo pouco a pouco, dia após dia, com a ajuda das vacinas da caridade, da misericórdia e da humildade.
[…] orgulho (em seu formato danoso), egoísmo, vaidade, inveja, ambição e ódio são variáveis do mesmo veneno que devemos eliminar do corpo pouco a pouco, dia após dia, com a ajuda das vacinas da caridade, da misericórdia e da humildade.
A vaidade e o orgulho têm naturezas diferentes, apesar de ser comum o emprego dos dois termos como sinônimos. A vaidade é decorrente do orgulho e caminha bem próximo a ele, mas tem mais a ver com narcisismo. Quem é vaidoso tende a se preocupar excessivamente com sua imagem perante os outros, muito mais do que se espera de, por exemplo, um profissional que precisa estar apresentável para atender seus clientes. Em outras palavras, a preocupação com a aparência, diferentemente da vaidade, não é necessariamente algo ruim. Para algumas profissões esse zelo pode ser mais do que positivo, mais do que desejável; pode ser indispensável. Também não há nada de errado em comprar com dinheiro honesto boas coisas e usá-las como bem entender. O problema começa quando a pessoa pauta sua vida apenas pelas aparências e, pior, julga os outros com base nisso.
Se a vaidade tem a ver com o que queremos que os outros pensem de nós, o orgulho está mais relacionado à opinião que temos de nós mesmos, à autopercepção. Uma pessoa pode ser orgulhosa sem ser vaidosa, e é preciso destacar que nem sempre o orgulho é ruim. Orgulhar-se de ser brasileiro, de ter superado um desafio ou de compor uma equipe bacana são exemplos nobres desse sentimento. Em sua má acepção, porém, ele leva uma pessoa à soberba, à arrogância, à impressão de que é melhor do que os outros. Quando se manifesta dessa forma, esse é um sentimento perigoso, porque cega e impede o orgulhoso de se desenvolver, de melhorar. Você certamente conhece alguém tão orgulhoso que não consegue de jeito nenhum enxergar os próprios defeitos, não é? E o que dizer daquele concurseiro tão seguro de si que é incapaz de perceber como está longe de ser o exemplo de dedicação que imagina ser?
Entre as características ou condutas de alguém ORGULHOSO assim, gostaria de destacar as seguintes:
a) Contraria-se com muita facilidade, o que, em muitos casos, é fruto de pura insegurança;
b) Tem necessidade de ser o centro das atenções e de fazer prevalecer as suas ideias;
c) Não reage bem a críticas;
d) Não aceita que também pode ser falível e passível de cometer erros, fechando-se ao diálogo construtivo;
e) Faz pouco caso das ideias dos colegas, dos colaboradores, dos mais experientes;
f) Quando elogiado, enche-se de empáfia e de uma satisfação presunçosa, como se o elogio fosse a prova de sua importância, de seu valor, de seu prestígio;
g) Acha que tudo deve girar ao seu redor. Isso vale para todos: para os membros da família, para os colegas de trabalho, para os amigos;
h) Nunca demonstra fragilidade;
i) Pode ser irônico e debochado em discussões e debates.
Agora analisemos algumas das facetas mais comuns do VAIDOSO:
a) Tece autoelogios sempre que pode;
b) Esforça-se em realçar seus dotes físicos, culturais e intelectuais, sempre de forma antipática e com visível intenção de provocar os demais;
c) É intolerante com quem tem formação acadêmica ou posição social inferior à sua, incorrendo em comentários inconvenientes e deselegantes que poderiam ser evitados;
d) Não reconhece sua parcela de responsabilidade em eventuais infortúnios que atravesse;
e) É incapaz de reconhecer suas falhas e erros. Prefere atribuir seus insucessos à má sorte ou a uma conspiração do universo;
f) Gosta muito de falar, para ouvir a própria voz e demonstrar “toda a sua sapiência”.
h) Aspira a cargos de destaque e que gerem respeito à sua pessoa, ao seu talento, à sua sabedoria. Indisfarçadamente, almeja que suas qualidades sejam reconhecidas e admiradas pelos outros.
[…] jogue fora a vaidade e procure fazer tudo com modéstia, paixão, humildade, autenticidade e alegria e de forma respeitosa em relação a todos que o cercam.
Viu como essas características não são nada legais, amigo leitor? Então jogue fora a vaidade e procure fazer tudo com modéstia, paixão, humildade, autenticidade e alegria e de forma respeitosa em relação a todos que o cercam. Trabalhe ao máximo para se esvaziar do orgulho ruim, aquele que o impede de aceitar feedback de desenvolvimento e o leva a achar que sabe tudo; aquele que sabota as suas metas de longo prazo por privar você de paciência para aguardar o momento certo da colheita. Freud ensinou, e eu repito: “Lute pelo sucesso e não pela fama. Se a fama vier, dê pouca importância a ela”. O pai da psicanálise disse mais: “Existem duas maneiras de ser feliz nesta vida: uma é fazer-se de idiota, a outra é sê-lo”.
É isto, meu amigo, minha amiga: não queira ser melhor do que ninguém; queira, sim, ser amanhã uma pessoa melhor do que foi hoje.
Vamos em frente, juntos, sem orgulho, sem vaidade, com o ego saudável e, acima de tudo, felizes por estarmos na direção certa rumo à realização dos nossos sonhos.
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“Se dois indivíduos estão sempre de acordo em tudo, posso assegurar que um dos dois pensa por ambos” – Freud
GRAN sucesso,
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Gabriel Granjeiro – Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 10 anos. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino a distância.
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