“Tudo pode ser tirado de uma pessoa, exceto uma coisa: a liberdade de escolher sua atitude em qualquer circunstância da vida.” Viktor Frankl (1905-1997), neuropsiquiatra austríaco
Imagine esta cena:
Um trem avança com 1,5 mil pessoas a bordo, as quais já estão na estrada há alguns dias e noites. Em cada vagão, 80 passageiros seguem espremidos, dividindo o espaço com mochilas – as quais cobrem quase toda a extensão das janelas –, últimos e únicos pertences daqueles indivíduos, que pensam estar a caminho do trabalho numa fábrica de armamentos.
Eis que soa o apito da locomotiva, e, na placa da estação final, é possível ler: Auschwitz.
Todos ali compreendem imediatamente o que virá a seguir: câmaras de gás, crematórios e execuções. Traduzindo: sofrimento e, muito provavelmente, a morte.
Depois de obrigar os prisioneiros a deixar a bagagem para trás, um oficial examina friamente cada um, apontando para a direita ou para a esquerda. Aos selecionados para o lado direito, caberá o trabalho forçado no campo de concentração. Aos que estão à esquerda, a câmara de gás.
O nazista de alto escalão apontou para a direita ao mirar um jovem de nome Viktor Frankl, que se tornaria autor do relato resumido acima, contido no livro “Em busca de sentido”, publicado em 1946, mas ainda atual.
Tiraram tudo de Frankl: a família, os bens materiais, os manuscritos que levava no bolso, as roupas, os pelos do corpo – até as sobrancelhas –; tudo mesmo. “Não tínhamos nada, a não ser nossa existência nua e crua”, conta. A única coisa da qual não conseguiram privá-lo foi da capacidade de escolher qual atitude tomar diante daquela situação degradante, que parecia um pesadelo marcado por fome, frio e medo.
Você seria capaz de sobreviver a uma experiência como a que vitimou aqueles judeus? Viktor Frankl foi, e por três longos anos, findos os quais saiu livre do campo de Auschwitz. A pergunta, então, é: por que ele e outros tantos conseguiram? O próprio Viktor sugere uma resposta: porque agiram de maneira diferente, encontrando um propósito, um sentido na vida, algo que fazia valer a pena preservá-la.
Quem tem uma clara razão de viver está mais apto a superar dificuldades. Nossa existência vai muito além da luta por bens, riqueza, conforto, prazer, poder, status, admiração. É em nossos objetivos e sonhos que reside seu verdadeiro valor, e é analisando detalhes de nossa individualidade que identificamos algo que nos motiva a viver mais um dia, e depois outro, e outro… Mas como encontrar, considerando tudo que pulsa a nossa volta, um significado que nos dê esse fôlego?
Antes de tentar responder, cabe explicar o que é “propósito”. Para tanto, vou me valer de uma frase de Aristóteles: “Propósito é quando seus TALENTOS se encontram com as NECESSIDADES do mundo”. Quer dizer, então, que, em algum momento, há pontos de convergência entre uma habilidade ou um talento individual e uma urgência do mundo lá fora. Eis aí uma forma bem interessante de descobrir onde começa o caminho do propósito, o sentido da vida. Particularmente, demorei para compreender que tem de haver uma ponte ligando tudo que sou e tenho comigo ao que posso fazer no e pelo universo. Hoje entendo que meu propósito é identificar meios de quem confia em nosso trabalho conseguir – o mais rápido possível – mudar de vida com a ajuda da educação e da tecnologia. O mundo espera de mim que eu faça algo por nossos 190 mil alunos, 480 colaboradores, além, é claro, de minha família. Note bem: é o mundo que espera de mim, e não eu dele.
A partir desse entendimento, minhas qualidades ganham novo significado. Tudo que faz parte da minha essência – alegria, bom humor, energia, pensamento positivo, perseverança, fé, autoconfiança, imparabilidade, iniciativa, atitude – me ajuda a tornar mais leve e agradável a trajetória das pessoas que lutam por uma vaga no serviço público, confiantes de que estão perto de concretizar seus objetivos. É como nos ensina Carl Jung ao dizer que “o sentido torna suportável uma grande parte das coisas – talvez tudo”. Parafraseando Frankl: “Ao saber do ‘porquê’ de sua existência, é possível suportar quase todo ‘como’”.
Retomando a história dos judeus sob o regime nazista, e inspirado nela, acho importante notar que a melhor fonte de onde podemos tirar força para atravessarmos qualquer sofrimento ou dor é o senso de propósito. Trata-se de, em vez de focar o passado, mirar o futuro, pensando em um projeto de cada vez. Viktor, por exemplo, fechava os olhos e se imaginava dando aulas para outras pessoas sobre o que aprendeu em Auschwitz. Provavelmente muitos daqueles prisioneiros alimentavam a ideia de passar o ano-novo – ou qualquer outra data especial – com os entes queridos, e foi com esse objetivo a guiá-los que sobreviveram a todos os horrores hoje notórios.
Frankl conta que, certa vez, dois conhecidos afirmaram nada mais terem a esperar da vida. Ao ouvir aquilo, o doutor tratou de mostrar-lhes como estavam enganados. Era a vida que esperava algo deles! De fato, em um dos casos, era o filho, que idolatrava o pai, quem aguardava por ele no exterior. Em outro, era a própria obra de vida do prisioneiro, um cientista. Ambos eram insubstituíveis no mundo. Essa unicidade é característica de todos nós, seres humanos, cada um em seu contexto.
Tudo bem que não podemos controlar os eventos ao nosso redor, mas somos, sim, capazes de controlar a maneira como respondemos a eles. Ao lidarmos com a dor de forma construtiva, abrimos a mente para algum tipo de sentido, significado, relevância na adversidade. A descoberta de um propósito faz de nossa travessia uma trajetória mais íntegra e saudável.
Para nadarmos contra a maré, para navegarmos contra o vento, para, enfim, superarmos obstáculos e dificuldades, precisamos experimentar e aceitar, igualmente, luz e escuridão, alegria e tristeza, prazer e dor. Os desafios jamais nos deixarão como nos encontraram. Segundo o dito popular, “a vida é como uma pedra – ou nos tritura, ou nos dá polimento”.
Existem três formas de dar sentido à vida: amando o próximo, abraçando uma profissão por vocação, sempre com o bem comum como objetivo maior, e enfrentando, com atitude e bondade, provações. A ideia é converter o sofrimento em conquista, em propósito, dando-lhe sentido maior do que a própria vida. O sofrimento, por si só, não tem significado. O que tem é a forma como respondemos a ele.
Recomendo demais a obra de Frankl, que une psicologia, história e filosofia como bases para se debruçar sobre o nível mais extremo da degeneração humana. Depois da leitura, tenho certeza, você verá como o sentido e o propósito são forças poderosíssimas para seguirmos em frente mesmo quando o mundo parece banhado pela escuridão. Saberá que, nesse caso, deverá encontrar seu próprio jeito de iluminar o percurso.
E então, o que você acha que a vida espera de você?
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Gabriel Granjeiro – Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 10 anos. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino digital.
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