A verdadeira humildade

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A humildade ajuda a viver melhor. Sendo humildes, lidamos com mais tranquilidade quando a vida resolve nos impor desafios, sem a arrogância de nos sentirmos injustiçados quando, na verdade, estamos apenas sendo testados, tal como ocorre com nossos iguais. Cultivando a modéstia, temos mais chances de alcançar sucesso em qualquer grande projeto, por uma razão muito simples: nossos olhos estão abertos para o que somos de fato, seres imperfeitos, que precisam se desenvolver continuamente. A verdadeira humildade tem, portanto, papel fundamental em nossa paz de espírito, em nossa felicidade.

Apesar de fundamental, essa é uma qualidade pouco compreendida. Alguns de nós a confundem com ingenuidade, falta de juízo ou até de inteligência, e é aí que surgem abusos, desdém, prepotência. Há, ainda, quem a considere atributo exclusivo daqueles com menos posses e dinheiro, o que também está longe de ser verdade, afinal há ricos humildes e pobres bastante orgulhosos. Acho que se faz essa associação porque o dinheiro pode, de fato, mudar o comportamento de alguém, sem que haja aí, necessariamente, relação de causa e efeito.

Humildade pode funcionar como portão de entrada para a honra, ao passo que a soberba é a sala de espera para a queda. Sua senhoria a humildade sempre anda bem acompanhada de outras boas e sábias senhoras: mansidão, paciência, fortaleza, singeleza, simplicidade, deferência, empatia e caridade. Os senhores respeito e despojamento acompanham-nas todas. Se humildade é força, imagine, então, quando se mistura a tantas figuras ilustres! Ao mesmo tempo que não é orgulhoso, nem vaidoso, nem egoísta, o humilde sabe que tem pontos fortes e que não deve simplesmente enterrar os talentos com os quais foi agraciado. Igualmente, reconhece cada um dos fracos e procura ajuda para contorná-los ou se livrar deles.

Por definição, humildade é a virtude da modéstia e do bom senso, da capacidade de compreender as próprias limitações. É a aceitação plena das vulnerabilidades e fraquezas. É invocar as qualidades sem o erro de ignorar os defeitos. É não deixar que as falhas que nota em si mesmo prejudiquem em qualquer nível os valores nutridos desde sempre. É admitir que errou e tratar de se acertar com a vida. É manter a força de caráter acima de tudo. É ter empatia para se pôr no lugar do outro. É saber ouvir.

Quem compreende as próprias limitações vai em busca de se desenvolver, procurando se autoconhecer primeiro, sem se deixar afetar nem pelas honras nem pelas desonras; nem pelos elogios nem pelas calúnias. Uma pessoa humilde nunca se coloca como merecedora de nada, tampouco aponta para as faltas e os defeitos dos outros, pois sabe que não lhe cabe julgar ninguém por nada. Evita emitir críticas, mas, se o faz, foca nas construtivas, sempre com a intenção de ajudar o outro a crescer. E – importante! – depois de pedir permissão para opinar. Estou convencido de que a humildade é a disponibilidade de servir, de mudar vidas, de permitir que os outros não esperem apenas pela sorte, mas criem as próprias oportunidades.

A humildade é provavelmente o maior diferencial dos líderes. Quando penso nisso, logo me vêm à mente o nome e a imagem de dois grandes homens que já caminharam pela Terra: Jesus Cristo e Gandhi. O primeiro, filho de carpinteiro, nasceu em uma manjedoura e entrou em Jerusalém montado em um burrinho, mas nos ensinou tanto sobre amor, perdão, caridade, tolerância, esperança, solidariedade, justiça, humildade… Algumas de suas mais belas palavras vêm do Sermão da Montanha e as bem-aventuranças: “(…) bem-aventurados os mansos porque eles herdarão a terra” (Mateus 5:5). Quanto a Gandhi, o episódio de que me recordo é o do jovem Shriman, PhD pela London School of Economics, que, desejoso de mudar a economia indiana, foi pedir a bênção de Bapuji e ouviu isto: “Junte-se a nós e limpe os banheiros do eremitério hindu (Asham).” No pensamento de Gandhi, se o jovem doutor queria mesmo transformar a economia de uma forma que ajudasse todo mundo, precisava, antes, entender a vida de todos.

Essa história protagonizada por Shriman me faz lembrar do tempo em que eu, com 14 anos de idade, fui colocado por meu pai para trabalhar em diversos setores do curso presencial dele. Acho que só não me destacou para limpar banheiros porque não deu tempo. Anos depois, montei minha própria empresa, que atualmente presido. Graças a essa e outras experiências no mundo dos concursos e do empreendedorismo, hoje consigo enxergar sob os pontos de vista do colaborador mais graduado ao mais inexperiente. É claro que também cometo erros em minhas análises, como qualquer ser humano, mas sempre estou aberto a mudar de opinião, desde que o outro me traga novos e relevantes dados. Eis mais um ponto a ser destacado sobre humildade que muitos confundem: o fato de ter uma opinião firme não torna você menos humilde. O pulo do gato é ter inteligência para saber quando é hora de abandonar ideias que não se sustentam mais. Gente cabeça-dura dificilmente vai longe. Prefiro ser manso, porque “ser manso e humilde é entrar pela porta estreita” (Mateus 7:13).

E saiba que, no outro extremo da modéstia, a arrogância faz estrago. Quem despreza a humildade – e infelizmente tenho conhecido muita gente assim em minha jornada como empreendedor – tem alma mesquinha e se acha no direito de censurar tudo e todos, como se fosse a perfeição em pessoa. Um dado curioso: é aquele tipo que diz sim para tudo, ainda que disso resulte muita frustração. Pode soar estranho, mas, muitas vezes, acreditamos que, ao dizer sim, estamos sendo generosos, quando, na verdade, a força por trás dessa aparente disposição é a vaidade. No fundo, quem é mais inseguro teme que um não possa trazer sensação de impotência e inferioridade. Cuidado!

Existe uma parábola que nos ensina uma grande lição sobre isso. Gostaria de compartilhá-la com você:

Certa manhã, meu pai, muito sábio, convidou-me para dar um passeio no bosque, e eu aceitei

com prazer. Após algum tempo, ele se deteve numa clareira e, depois de um pequeno silêncio, me perguntou:

– Além do canto dos pássaros, você está ouvindo mais alguma coisa?

Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi:

– Estou ouvindo um barulho de carroça.

– Isso mesmo. E é uma carroça vazia!

Então, perguntei:

– Como pode saber que a carroça está vazia, se ainda não a vimos?

– Ora, ele respondeu, é muito fácil saber que uma carroça está vazia por causa do barulho.

 

Qual é a moral? Tenha cuidado com as carroças vazias. Elas fazem mais barulho. Quem precisa gritar, espernear para mostrar sua opinião faz isso porque o conteúdo é raso, vazio, inútil. Faz isso por orgulho, por vaidade, por falta de humildade. Aprenda a lidar com essas pessoas e faça justamente o contrário. Combinado?

“Melhor ter espírito humilde entre os oprimidos do que partilhar despojos com os orgulhosos.” (Provérbios: 16.19)

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Gabriel Granjeiro – Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 10 anos. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino a distância.

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